A crise existencial da mentira.
A mentira mentia tanto e com tanto empenho, que não acreditava mais nem em si.
De tanto enganar, vilipendiar, tripudiar e distorcer a realidade, a mentira já não sabia mais quem era.
Tanto mentiu, que se perdeu e não sabia mais achar o caminho de volta, de ser apenas mentira. Tinha virado doença, maldição, contaminara o mundo.
Temia a verdade, é evidente, pois a verdade seria a única capaz de desmascará-la.
Desesperada, a mentira saiu pelo mundo buscando a verdade, talvez conseguisse confundi-la, afinal seu poder parecia ilimitado.
Não conseguiu localizá-la, pois as pessoas verdadeiras temiam a mentira e preferiam silenciar.
Tem diálogo possível com mentirosos? Claro que não. A verdade continuava em mentes corajosas, porém esperavam o momento certo para desmascarar os estragos da mentira que minavam as mentes e as relações.
A mentira travestiu-se em roubo, invasão de privacidade, derrubar quem se coloca no seu caminho, perversão.
Já não se reconhecia, mentia para si mesma, a sua perversão voltou-se contra si implacável, contudo ela não conseguia parar.
Até que a mentira encontrou-se com a MENTIRA PERVERSA, assassina.
O diálogo foi assustador, perderam-se nas tentativas de enganar.
Acabaram se matando mutuamente, morreram abraçadas.
A verdade tentou mostrar sua face, doce ilusão!
A mentira tinha deixado herdeiros que continuavam envenenando o mundo.
Moral da história: a verdade está apenas na mente dos que ainda a conservam e preservam-na, e o mundo continua contaminado pela mentira.
Um dia quem sabe?