COMENTÁRIO ANALÍTICO
Tânia Meneses,
Nos últimos meses, tenho observado e lido seus textos poéticos nesta página de facebook. Lê-los, para mim, não é novidade, uma vez que acompanho suas escrivaninhas no Recanto das Letras, há anos. Aliás, foi lá que conheci a escritora Tânia Meneses e passei a seguir sua produção literária.
A publicação de seus textos (escritos e declamados)
nesta rede social induziu-me a fazer este comentário, condensando nele uma pequena análise do que há em sua obra escrita. Ela é vasta e comporta profundos estudos, entretanto, faço apenas um esboço neste momento.
Clarice Lispector disse que toda palavra tem mistério. Eu digo que o que atrai tanto em sua poética, Tânia, é o mistério que há em suas palavras. Elas são escancaradamente misteriosas, mesmo que pareça contraditória esta assertiva. Há nelas a força de algo que todos desejam decifrar. Assim, sua pessoa também passa a ser um mistério a ser desvendado.
Ainda parafraseando Clarice, você e sua obra são como a esfinge, cujo segredo atrai e ninguém decifra. Sua literatura tem a força motriz do mistério e isto a diferencia e distancia da obviedade.
A persona Tânia Meneses e sua produção escrita têm a beleza e a profundidade do fato de serem simples, sem serem superficiais e sem serem banais. Mostram a poesia em meio a brumas envolventes. Nessa mistura de claro e bruma, dá-se a surpresa do convite a possíveis descobertas, além da porta da caverna.
Todavia, a genialidade de seu estilo mostra um quê intimista diferenciado da poesia contemporânea chamada marginal, pois suas características divergem das daquela corrente e a colocam em patamar diverso, ao lado de expressivas representações modernistas.
Por mais que se pretenda descobrir, seu mistério é indizível. Sua representatividade atrai pela força misteriosa do indecifrável ante o que se mostra enganosamente simples.
Sua produção engloba sinais de diversas escolas literárias. É, ao mesmo tempo, intimista e de engajamento social. Muitas vezes é um grito de independência pelo semelhante e, em tantas outras, são pessoalíssimas suas temáticas. Usa linguagem ampla, como quem tudo absorve e nada rejeita, mostra certa ruptura com tendências tradicionais, mas abdica de gafes semânticas e estruturais da língua. Vê e sente o mundo, transforma o visto e o captado em poesia livre de modismos literários e não se sujeita a regularidades. Caminha sem dificuldades entre vertentes supostamente contraditórias.
Estilisticamente falando, a obra de Tânia Meneses endossa Mário Quintana, quando este disse que “estilo é deficiência que faz com que um autor só consiga escrever como pode”.
Ela borda o momento histórico e sua problemática com a mesma desenvoltura com que poetisa um instante particular em íntima comunhão com a poesia. Sua linguagem expressa o espírito de um povo, ou o caráter insólito tensional posto entre o real e o imaginário da inspiração poética. Nessa mistura de espíritos entrelaçados em inspiração inesgotável e intuitiva, seus versos atingem o objetivo primordial da poesia, que é colocar o leitor em estado poético. Com este difícil objetivo alcançado, percebe-se em sua produção a vestimenta metafórica de palavras envoltas em requinte e carisma pessoal, ou seja, o misterioso requinte literário. Parabéns!
Dalva Molina Mansano