O EXERCÍCIO TÁTIL DA DISTÂNCIA

Trazem uma história nas pontas dos cabelos e o mirante no olhar, gota sobre gota, a recordar estradas de alcatrão e anéis onde morrem as aves.

Nos ombros tatuaram conversas e todas as palavras clandestinas que já não sobem pelas frestas da voz (agora desabitada a enterrar bocas e conclusões suspensas).

Sabem que não têm todo o tempo mas a esperança continua a ser deus que não sabe a cor do céu ou de que massa se compõe o silêncio.

Remanesce o corpo tombado sobre o movimento e todas as mortes que os habitam;

na vida nenhum deles ousa confiar.

José Saramago e O Ano da Morte de Ricardo Reis
Enviado por Luiz Saraiva em 03/09/2020
Código do texto: T7053657
Classificação de conteúdo: seguro