Nº27 – Coração em Ruinas

03/08/2020 – segunda-feira

Querido Unicórnio,

Estive pensando em parar de escrever a vocês. Embora eu tenha começado a escrever mais com o intuito egoísta de me ajudar a super os meus dragões e sobreviver às adversidades que me são impostas, em algum momento no meio do caminho começou a crescer em mim um sentimento por vocês. Conheço alguns de vocês e me alegro em saber que estão seguindo firmes, assim como penso que ha muitos que me leem e a trajetória nesta pandemia e na vida poderiam me ajudar e ajudar a muitos outros. Na carta de Nº25 pedi para conhece-los, mas creio que vocês são tímidos ou desconhecem a importância que possuem.

Eu estou um pouco arrasado emocionalmente. Lido desde criança com a perda, a rejeição, o desafeto, e creio ter chegado ao meu limite. Sei que não sou a pessoa mais especial do mundo, e que meus defeitos são muitos, mais do que eu gostaria por sinal. Entretanto alguns fatos da vida tem me levado a um sentimento de nada. Tenho sentido medo de fazer amigos. Medo de confiar nas pessoas. Medo de parte de uma família e do nada novamente me ver um órfão. E o amor afetivo (relacionamento) tem me soado como um privilégio para alguns, onde os demais são como cães ao pé da mesa, servindo-se das migalhas que consideram que mereço – sei que soa radical para quem lê, mas quem escreve foi tranquilo com as palavras.

Se você tem alguém que te ama, que te ver com os olhos de quem, mesmo em tempos inversão de valores, acredita que vale a pena amar, valorize isso. Entretanto, caso você veja nos olhos de quem te tem com tanto gosto, nascer o amor, e você não puder ou não quiser retribuir, não permita que a semente nem mesmo venha a ser semeada. Pior que um mundo sem arvores, é um mundo onde o desmatamento se dá como se fosse esporte. Ninguém é obrigado a amar ninguém, em nenhuma das formas em que o amor se dá, mas permitir que o amor nasça em outro coração, sem o intuito de cuidar, é brutal e de grande maldade. Somos inteiramente responsáveis pelas pessoas que cativamos.

Eu estou cansado. Na vida temos que lidar com tanta coisa. Trabalho, escola/faculdade, sonhos, projetos, e como se não bastasse, as pessoas não facilitam. Dizem que querem isso e aquilo, mas são incapazes de lutar, são covades, são medíocres, e lhes falta empatia. Todavia é impossível controlar tudo na vida, e por isso deixo a vocês esta oração:

“Deus, concedei-me,

Serenidade para aceitar as coisas que eu não posso modificar;

Coragem para modificar as coisas que posso, e

Sabedoria para saber a diferença."

Caso eu não vos escreva novamente, peço que se cuidem, que se amem acima de tudo, pois ninguém o fará por vocês. Viva em sociedade, tenha sua família, ame seus amigos, mas nunca dependa, tampouco confie plenamente em ninguém. No fim você nunca será a escolha de alguém, por tanto trate de ser a sua própria escolha.

Lembre-se de nosso lema:

Viver vale mais que existir.

Ser Resistência.

Ser uma flor teimosa que insisti em florescer em uma selva de concreto.

PS1: Sinto que meu intuito de ajudar está comprometido, pois estou demasiadamente quebrado enquanto pessoas para ver as coisas de uma perspectiva positiva e otimista.

PS2: Sempre seremos inteiramentes responsáveis pelas pessoas que cativamos.

Com amor, Tiago.

RL Perco
Enviado por RL Perco em 03/08/2020
Código do texto: T7024723
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