Sobre o presente, o sofrimento e o que considero como eu.
A página virou. Vivemos uma era onde tudo o que conhecíamos como status quo foi jogado pela janela e agora temos que aprender das cinzas do que existia antes a viver e conviver com os novos dias. As vezes já me peguei pensando em como seria a forma correta de nós abordarmos os problemas que vivemos. Seria acreditando que neste momento a felicidade do maior número de pessoas é o que deve ser valorizado? Existimos aos montes, como abelhas de uma gigante colmeia, será que o que é correto no momento é o bem estar do maior número de pessoas ao contrário de se preocupar com o ganho individual? Ainda assim, somos todos indivíduos. Não vivemos observando tudo ao nosso redor em terceira pessoa e não sabemos priorizar sempre o bem estar do todo ao nosso próprio bem estar. Na verdade, somos extremamente egoístas, vivendo em nosso mundo em primeira pessoa, onde somos meros ciborgues com smartphones como um órgão protético que nos conecta ao todo. Isolados fisicamente e mentalmente dos demais, vivemos a dualidade corpo/informação. Nossa vida na internet é tão necessária e importante com nossos aplicativos bancários, redes sociais e instrumentos de comunicação a distancia.
Seria então, o correto abraçar nossa individualidade? Quanto mais nos focamos em nós mesmos, menos nos preocupamos com o que ocorre a nossa volta, em um processo de dessensibilização sistemática onde logo não nos importaríamos da gravidade de nossos conflitos. Mas então vejo que tais conflitos estão, também, sendo apenas cópias de cópias de ideias que pessoas em mais destaque mastigaram, digeriram e vomitaram na boca de muitos para terem munição em uma guerra sem embasamento por pessoas a quem falta toda e qualquer qualificação para a liberdade de expressão. Se antes a informação que nós recebíamos passava por um processo de seleção natural, onde aquilo que importa se mantém e o que não é necessário é descartado, hoje vivemos uma realidade onde nadamos em meio a excesso de informação desnecessária, inútil, sem valor e que apenas entorpece nossa capacidade de pensar. É irônico que a palavra do momento seja falta de informação...
Em tempos conturbados desejo aprender a abraçar o destino com suas incertezas e dores e pensar que existir exige aprender a se colocar como um humano que existe com o propósito de abraçar o destino. Abraçar os momentos ruins e bons da vida igualmente e aprender a usar a dor e o sofrimento como um estímulo a dar mais um passo. Abraçar a injustiça e decadência da sociedade como um meio de pavimentar o presente a capacidade de respirar o próximo segundo, ainda que não indiferente a tais problemas. Eu não sou único ou especial. No mundo existem sete bilhões e setecentos milhões de pessoas aproximadamente neste momento. Todas passando por coisas boas e ruins, mas eu como indivíduo sou um. Logo meu sofrimento só é útil para passar adiante a mensagem de que existe a necessidade de evolução. Abraçar o sofrimento e vive-lo, pois a vida exige uma tolerância a dor e a coragem de dar a cara a tapa dia após dia. E esperar que tal sofrimento sirva como alicerce para um novo passo adiante.
Eu vivo segundo tais valores o tempo todo? Certamente que não. Me revolto com a injustiça mesmo sabendo que a revolta é pouco prática se não for sublimada em solução, e lamento meu sofrimento mesmo sabendo que é a constante que sempre existirá na vida, e que é desnecessário lamentá-lo ciente que amanhã existira outro motivo de sofrer. Mas querer isto seria querer a perfeição. Prefiro evoluir a passos lentos e chegar em uma convicção própria do que trocar de pensamento como se estivesse trocando de meia, descartando uma ideia para a próxima, sem se preocupar com o processo em que tais ideias se opõem. Prefiro acreditar que eu embora talvez nunca alcance meu sonho de ter vivido a vida que valha ter a voz ouvida e perpetuada para todas as gerações, servindo de exemplo para todos os homens do futuro, eu pelo menos não fugi de meu desejo de perpetuar o melhor para mim e para aqueles ao meu redor. Continuo almejando dar meu último suspiro ciente de que eu e aqueles que eu consegui impactar vivemos até o nosso último segundo como se vivesse o clímax de uma história que não se acaba em nós. Para tal propósito, existo neste segundo, aguardando o seguinte.