Nº22 - Roteirista... muda a trama, está muito branca!

06/07/20 - segunda-feira

Querido Unicórnio,

Hoje sou uma erva daninha e estou emputecido. Acordo, faço o meu café e vou estudar para o Enem (quem nem sei se vai sobreviver ao governo Bolsonaro), faço meu almoço e o como assistindo ao jornal, volto para o computador para procurar emprego (que com o governo Bolsonaro, sem sei quando vou conseguir), volto a estudar para o Enem, tomo meu banho e faço um lanche vendo jornal, volto aos estudos, faço vídeo chamada com meu irmão, volto ao Enem e finalizo o dia assistindo a uma serie ou filme. Tudo isso em uma dia bom, por que em outros dias sou acordado e passo o dia em modo zumbi me alimentando de redes sociais e debatendo com minha existência preta e complexa.

Sou brasileiro e quero deixar registrado aqui uma mensagem desaforante: Caro Roteirista de merda, eu não pedi pra nascer, nem vou pagar de vitima das circunstancias, mas sua concepção de seleção natural precisa ser atualizada. Seus finais de temporada estão previsíveis, a trama esta enfadonha e não causa reflexão alguma. Dispa-se dessas vestes, a Isabelzinha não era estilista, tampouco santa. E não me venha com o clichê de que “no final tudo dá certo”, por que no final não vou precisar de faculdade, de emprego com estabilidade, de casa própria, de estabilidade financeira... no máximo a minha família para segurar minha mão quando o trem chegar. Suas letras brancas digitadas em meu teclado preto não condizem com minha tinha preta em seu papel branco. Estou cansado de tanto branco na produção, por que filosofia de branco tem sua consagração sobre os devaneios dos negros. Pouco me importa a dança infernal desses babuínos “brasileiros”, apenas retire o termo “meu malvado favorito” da Brasília amarela. Muda essa trama ou recindo o seu contrato.

Querido Unicórnio, quem disse que não posso pintar meu cabelo de rosa? Quem disse que não posso ser bailarino? Quem disse que não posso casar, se no altar forem dois homens? Quem disse que meu filho não pode ter dois pais? Quem disse que minha cor define onde posso ou não estar? Quem disse que por eu dormir com um homem não posso ser pastor, ministro de louvor, obreiro, missionário? Quem disse que por eu fazer sexo com outros homens não posso doar sangue? Quem disse que por eu ser deficiente tenho que receber menos? Quem disse que a nudez do meu corpo é um convite ao sexo? Quem disse que minha demografia diz quem eu sou? Quem disse, quem disse, quem disse?

Sociedade normativa, cheia de regras, mas regras para quem, leis para quem? Não estou mais vendo jornais, 50mil mortes e um governo inerte trás mais medo que esperança. Sei que a morte virá para todos, mas a sensação de não poder ter uma vida plena é como viver em um mundo morto. Não sei você meu querido Unicórnio, mas eu estou com medo desse Roteirista que escreve o sucesso dos 10% com o sangue de um povo que parece existir apenas como combustível para a supremacia branca.

Lembrem-se de nosso lema:

Viver vale mais que existir.

Ser Resistência.

Ser uma flor teimosa que insisti em florescer em uma selva de concreto.

Com amor, Tiago.