Sobre o hoje...

Costumamos dizer que em tempos de dificuldades reconhecemos nossos amigos e até mesmo nossa família, pois só em momentos de dor percebemos quem nos ama de verdade e estão conosco não pelo que temos, mas sim pelo que somos e as vezes, somos pessoas difíceis no dia a dia, fazendo com que mesmo aqueles que amamos e nos amam se afastem de nós. Ninguém vai embora de um dia para outro, estamos indo cada dia mais até que finalmente nos deparamos com a inevitável partida. E esse “ir embora” tem raízes profundas, mágoas, ressentimentos, rancores e muita falta de perdão. Nós ainda não aprendemos a perdoar e assim vivemos doentes, carentes de amor, atenção e compreensão.

Com o passar do tempo, nos sentimos tão auto suficientes e independentes que nos esquecemos de olhar à nossa volta, não enxergamos os mais próximos por mais perto que estejam, moramos na mesma casa e não nos vimos, não nos olhamos e pior ainda, não nos falamos com o devido respeito e consideração para os que tem mais experiência de vida, que já sobreviveram a grandes batalhas e tem tantas estórias pra contar, sim, na era atual, criamos bolhas e mundos imaginários, amigos virtuais perfeitos que nos elogiam e fazem questão de dizer que somos maravilhosos e inatingíveis para os que não conseguem nos acompanhar...triste vida de quem não pensa no tempo que passa e não vislumbra um futuro mais distante, onde a longevidade dos seus dias, dependem das atitudes de hoje.

Há homens e mulheres trabalhando ao extremo para garantir um futuro melhor aos filhos e a família que constituem, realizam uma jornada exaustiva que muitas vezes extrapolam o dia e adentram a noite, o celular não pode ser desligado, o wiffi tem que funcionar vinte e quatro horas, mesmo em casa, é preciso continuar produzindo...o tempo não para, é preciso continuar ganhando dinheiro...é preciso pensar no futuro, garantir a velhice...mas...

E o presente que por sinal quer dizer “presente” e é onde tudo acontece? Onde as brigas começam, as diferenças ficam evidentes, os filhos estão cada um no seu quarto, cansados mentalmente pois vivem conectados e antenados com as informações que não param de chegar. É verdade, há muita informação e pouco conhecimento e nessa busca desenfreada de “viver”, vão se tornando seres humanos isolados do mundo real, cheios de razão, com muitas posses e nenhum apelo de solidariedade, partilha e participação nos momentos em que poderiam estar “juntos e misturados”, porque no mundo real é difícil conviver e assim, aos poucos, se cria um confinamento involuntário onde cada pessoa é dona da própria verdade e pouco interessa o que de fato nos leva à vida em família e em sociedade.

Na acelerada busca do sucesso, vamos em direção à bandeirada final e já sem fôlego, nos descuidamos das emoções diárias, das pessoas que amamos, não ligamos mais e vamos ficando descuidados com as relações mais íntimas. O que nos dá prazer tem preço e se não pagamos somos cobrados, então vamos deixando de lado os pequenos gestos de carinho, os beijos roubados, os elogios bobos que fazem tão bem...presentes? Só nas datas especiais, mas já não sabemos o que o outro gosta e erramos...erramos o presente, trocamos as datas, nos magoamos com as cobranças e vamos indo, pouco a pouco, embora de nós mesmos e todos os projetos que fizemos pensando no futuro, vivendo no passado e deixando o presente em branco, sem vida, sem as cores que poderíamos dar a ele porque estamos preocupados demais com o que poderíamos ter e menosprezando o que temos de mais valioso: nossa capacidade de recomeçar e reinventar nossa vida e nossos sonhos.

Precisamos encontrar uma forma de estarmos juntos, deixar espaço para os momentos em família, sorrir mais e não levar a vida tão a sério, pois, estamos aqui de passagem e a viagem, embora não saibamos, tem data para terminar. Façamos de nossos dias os melhores possíveis e deixemos que nosso lar seja terreno de paz, compreensão, amor e esperança, pois só assim, evitaremos as partidas e os finais tristes e desnecessários.

Viva a vida e não apenas passe por ela.

Vani Pedroza
Enviado por Vani Pedroza em 19/06/2020
Código do texto: T6982010
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