Nº19 - Ciclo sem Fim
Bom dia Unicórnio,
São 01:21 e o numero de hoje é o 12.
Acabei de assistir ao filme Fonte de Vida, e confesso que não estava preparado para ele. Um filme forte e belo.
Eu gosto de escrever. Normalmente, seja tomado por alegria ou triste, costumo ter uma boa fluidez ao externar meus pensamentos, sentimentos, fantasias, porém tenho encontrado certa dificuldade desde a ultima vez que escrevi a você.
Queria poder dizer algo altruísta, mas quanto mais tento escrever, mais me deparo com um vazio. Compreendo que o vazio não é a ausência do TUDO, mas sim um espaço entre as muitas matérias que compõe o TUDO, que compõe a minha existência. Todavia, não compreendo esse vazio. Essa pele, esse corpo, essa casca que envolve minha essência e que por vezes me sufoca faz com que eu me sinta em uma prisão. Esse vazio é uma prisão. Um estagio de sedentarismo, um estagnar do divisor de água do meu ciclo de vida.
Quem sou eu? Onde eu estou? O que eu quero?
Nascemos, Vivemos, Morremos. Eu amava Rei Leão quando criança, hoje eu mal consigo assisti-lo sem me perder em reflexões, questionamentos. A vida era tão simples quanto para sair de A e chegar em B só precisávamos traçar uma linha reta. Em que ponto da vida nos afeiçoamos tanto as complexidades para resolver uma equação?
Sou um unicórnio muito chorão. Um dia desses eu chorei muito ao leu uma reportagem que dizia “pessoas com HIV são despesas para o país”. Sou negro, gay, pobre, pensador e soropositivo vivendo em uma sociedade etnocêntrica, excludente, má. Mas notei uma coisa, meu choro tem durado menos tempo, como se eu não me importasse mais com toda essa falta de amor. Quando a dor vem, eu a abraço tão forte que acabo sufocando-a. Às vezes sinto que o Tiago que saíra do confinamento será um que me protegerá do mundo e de mim mesmo.
Nasci à 35 anos atrás. Externamente sofri as transformações naturais inerentes ao tempo, enquanto que por dentro amadureci sendo e não sendo o que sou sem deixar a essência do meu ser se perder. Meu principio permanece universal.
Peço desculpas se minhas palavras lhe parecerem desconexas, se houver falta de coesão em minhas expressões. Talvez minha realidade, seja pelo horário ou devido à intensidade do filme que eu assisti, esteja difusa e parcialmente substituída por uma fantasia visionária. Vou, portanto, ter com Orfeu.
Tenha um ótimo fim de semana meu querido Unicórnio, e lembre-se:
- Resistência sempre.
- Viver sempre será melhor que somente existir.
- E teimosia é a maior virtude de uma flor que insiste em florescer em uma selva de pedra.