uma resolução não pode nascer do nada
Como conciliar nosso livre arbítrio com a presciência divina? Perante o conhecimento antecipado que Deus tem de todas as coisas, pode-se verdadeiramente afirmar a liberdade humana? Questão complexa e árdua na aparência que fez correr rios de tinta e cuja solução é, contudo, das mais simples. Mas, o homem não gosta das coisas simples; prefere o obscuro, o complicado, e não aceita a verdade senão depois de ter esgotado todas as formas do erro.
Deus, cuja ciência infinita abrange todas as coisas, conhece a natureza de cada homem e as impulsões, as tendências, de acordo com as quais poderá determinar-se. Nós mesmos, conhecendo o caráter de uma pessoa, poderíamos facilmente prever o sentido em que, numa dada circunstância, ela decidirá, quer segundo o interesse, quer segundo o dever. Uma resolução não pode nascer de nada. Está forçosamente ligada a uma série de causas e efeitos anteriores de que deriva e que a explicam. Deus, conhecendo cada alma em suas menores particularidades, pode, pois, rigorosamente, deduzir, com certeza, do conhecimento que tem dessa atina e das condições em que ela é chamada a agir, as determinações que, livremente, ela tomará.
Notemos que não é a previsão de nossos atos que os provoca. Se Deus não pudesse prever nossas resoluções, elas não deixariam, por isso, de seguir seu livre curso.
É assim que a liberdade humana e a previdência divina conciliam-se e combinam, quando se considera o problema à luz da razão.