Educação é um mito?
Será que a educação é um mito? Será que ela se tornou um mito nessa época ou será que sempre foi um mito? E continuará sendo?
Procurar encontrar essas respostas de nada adiantaria se antes não soubermos encontrar o significado precioso das palavras educação e mito então as perguntas primordiais seriam:
O que é mito?
O que é educação?
O quando, o como e o porquê quase sempre estariam em decorrência das perguntas iniciais.
O curioso é que para saber disso, ou melhor, para saber poder dizer o que é mito, precisamos ser educados e para ser educados precisamos do pensamento mítico.
Essa minha premissa se mostra como uma peripécia um tanto quanto arbitrária e é justamente esse o ponto onde quero chegar. Pois Mito uma palavra de origem grega tem como significado em português as palavras fábula, história, narrativa... deste modo,a mitologia é tida como o estudo e/ou o conjunto dessas narrativas. Daí a importância dessa premissa pois em seu caráter axiomático ela nos diz que:
“O mito educa e a educação mitica”
Isso porque um mito trás consigo todo um receituário de construção do desenvolvimento, não se trata de uma história qualquer, bem sabemos que há histórias pouco relevantes ao âmbito da educação, no entanto o mito possibilita uma ambientação altamente educativa.
Educativa porque o mito ativa a capacidade de educar a si mesmo quando ele ti educa, tomando como base o termo “aristotélico” catarse (purgação, correção das conseqüências dos erros através do sofrimento) o leitor, o espectador, tende assumir uma postura humana em conformidade à catarse mítica, que passa agora a revelar a simbologia do mito.
Vejamos um pouco a experiência grega, que teve três momentos civilizantes de destaque, todos oriundos do pensamento mítico.
1. A oralidade
2. O teatro
3. A filosofia
Na oralidade temos o aedo, i.e. o poeta cantor como Homero e Hesíodo que com sua música(re)velava os mistérios arquetípicos da condição humana.
No teatro, essa oralidade predominantemente imagética dá forma ao protagonista que tem na tragédia a unidade efeito totalmente voltada para a catarse.
Na filosofia temos uma releitura dos mitos tomando como base a correlação divina-humana, desafiando o homem a ter uma necessidade improrrogável de conhecimento (a anánke epistemológica) demonstrando o quão grandiosa é a inter-relação e interpretação com mito.
Particularizando um pouco, analisando o mito da Aracne, moça e exímia artesã, identificada com a sua fama e, egoísta em sua conduta, se torna arrogante e esquece a recordação da origem divina de seu dom desafiando a própria deusa do artesanato, Atena, para uma competição, e acaba beirando a loucura, pois a deusa lhe põe a mão na fronte e a faz recordar a origem do dom. Arrependida, porém confusa enforca-se, padecendo dela Atena a transforma numa aranha.
Vejam neste resumo de história usei uma linguagem obtida pela educação que não corresponde exatamente à materialidade textual original (clássica), mas sim, a significação remitente da simbologia mítica em mim.
E o que seria educação, se não um constante decifrar para criar, usando um pensamento construtivista, diria que o objetivo da educação seria adiantar o desenvolvimento humano.
Adiantar é pôr sempre diante de um ponto, mas que ponto seria esse? Seria o humano educar é tornar o humano mais ser humano ainda fazendo desenvolver.
Des-envolver é o contrário de envolver, então que adiantar o ser humano, é preciso que ele não se envolva mas, com o quê?
Com a ignomínia ignorância e incompreensão da sua própria constituição simbolicamente, essencialmente humana.
Assim, como Édipo, ele deve reconhecer-se humano e, mediante uma profunda reflexão íntima revalorizar-se animicamente confortado com a dita de poder viver plenamente o seu ser.
Em resumo, educação seria um mito se e somente se, Prometeu nos prometer alguma coisa e, se prometeu, o que prometemos a ele? Se não a própria promessa de nos humanizar...
No entanto, mito também nos dias atuais recebeu assepsia de mentira. Seria então a educação uma mentira? Bem, Aracne talvez nos possa dizer!
Até lá, fiquemos com o pensamento do Nietzsche que diz: “Maturidade no homem significa reaver a seriedade que se tinha quando criança ao brincar”.
Leonardo Daniel R. Borges
Texto (revisado) apresentado no “Curso de Mitologia e Contos de Fadas” promovido pelo centro acadêmico de Pedagogia da FCL/Unesp-Araraquara no final de 2002.