Sobriedade
No canto há um pedaço de papel. Ele sempre esteve lá, mas em um dado momento o olhar é fisgado por esse objeto ordinário, que , por sua vez, recoloca o sujeito em um outro lugar. Por um instante surge uma nova posição. A representação do papel determina- me , subjetiva-me e cria um novo jogo intersubjetivo. Neste processo súbito, me pergunto: A venda da fantasia cai ou um novo fantasma surge? De todo modo, há uma sensação de abstinência: aquela dor do sóbrio por ter ciência da condição do Real. Mas como, se o Real abarca o indizível? Justamente! É aí que está o pavor da sobriedade: nela somos obrigados a vivenciar a mais pura verdade , porém seu impacto na estrutura do Eu é da ordem do impossível de simbolizar. O que resta? Apenas angústia... e, talvez, a esperança da venda ser recolocada e novamente se instalar a cegueira