Agora Ela e Puta part. 2
Amiga, senta aqui, vamos conversar sobre essa verdade inevitável.
A coisa mais fácil que você vai conseguir no mundo por ser mulher é que te digam uma coisa: que você é uma puta. Tudo que você fizer, não importa o seu nível de ingenuidade, pureza ou a integridade do seu hímen, levará alguém a te dizer, em algum momento da sua vida, que você é uma puta.
É adolescente e começou a dar uns beijinhos por aí? Puta.
Arrumou um namoradinho? Puta.
Decidiu que o supracitado é um menino ponta firme, querido, que te respeita e quer perder sua virgindade com ele? Puta.
Deu pro primeiro que viu na frente porque não acredita nesse papo de pureza? Puta.
Fez virilha cavada? Puta.
Usou batom ou esmalte vermelho? Puta.
Transou no primeiro encontro? Puta.
Botou aquele vestido colado? Puta.
Minissaia? Coisa de puta.
Se manifestou politicamente pela equidade de gênero, ou seja, se assumiu feminista? Puta. Puta, porca, suja, fedida e peluda.
É bissexual? Puta e ainda por cima safada.
Poliamorista? Puta.
Sai com as amigas solteiras a noite pro bar? Puta.
Tem namorado e sai com as amigas sem ele? Puta.
Escolheu um curso na faculdade que é cheio de homem? Puta.
Passou naquela matéria dificílima? Claro, fez favores sexuais pro professor, né, sua puta.
Foi promovida? Puta. Deu pro chefe, óbvio.
Gosta de qualquer atividade julgada masculina pelo senso comum, tipo futebol ou videogame? Puta querendo chamar atenção.
Amamentou em público? Puta descarada que exibe os peitos.
Mãe solo? Puta das putas.
Posou nua? Puta.
Gosta de beber? Puta.
Gosta de fumar unzinho? Puta drogada.
Foi assediada? Bem feito, ninguém mandou agir igual uma puta.
Apanhou do marido? Bom, ele deve ter descoberto que você é uma puta.
Às vezes a gente fica se remoendo porque não queremos ser vistas em determinado lugar numa certa hora. Ou ficamos preocupadas ao exibir um decote mais generoso. Tem também aquelas que deixam de sair com todas as amigas quando namoram, porque vai que algum conhecido te vê por aí na noite sem o seu varão à tiracolo. Ou ainda, mulheres que acham que uma vez comprometidas, não tem o direito de se masturbar.
Só que esse fatídico momento marcado pelo julgamento alheio vai chegar, infalivelmente. Daí, minha querida, você vai ser a puta, a vagabunda, a fácil, a galinha, a suja, a vadia, a meretriz, a sirigaita, a piranha, a piriguete… e mesmo se você agir de forma impecável, totalmente dentro das diretrizes cristãs, tal qual uma flor da família tradicional brasileira, trago notícias: eventualmente você será a corna, a frígida, a mal comida. Não tem escapatória. Se você é mulher, sua sexualidade, exercida ou não, sempre será usada contra você.
Nem a Sandy escapa dessa máxima. Então, assim, já que você vai ser puta aos olhos de outrem, sob quaisquer circunstâncias, pare de se privar de fazer certas coisas pelo medo de que isso vá acontecer. Troque essa apreensão torturante por uma certeza libertadora.
Elimine logo essa preocupação da sua cabeça. Foca no trabalho, na carreira, nos seus filhos, no seu marido, no seu hobbie, em teorias pra próxima temporada de Stranger Things, em capturar nhenhentos Magikarps pra evoluir pra um Gyarados porque, mais cedo ou mais tarde, isso vai cair sobre você também.
Já que você é uma puta mesmo, aproveite a estadia e faça logo a porra que você quiser