ENQUANTO FORMOS GENTE
Acredito que eu seja essa pessoa. Com a figura que foi criada e demonstrada fortemente de alguém com os olhos revirados. Acredito que eu seja um pouco de beleza e um pouco de feiúra. Acredito que eu seja tudo o quanto me fizeram acreditar que eu fosse. Não obstante, acredito que não sou a imagem propagada, que não sou um pouco de beleza e um pouco de feiúra, nem que me fizeram acreditar em tudo isto e tudo mais. Acredito que eu sou eu. Posso ser na medida em que não cometo crimes. Porém o maior crime talvez seja a incapacidade de eu relevar minha insatisfação com meu estado mental e físico. No entanto, eu sou o próprio indivíduo que se sujeitou a isso. Só que... Procuro colocar a culpa na mídia, na sociedade, nas pessoas que passaram pela minha vida, no ocultismo, no esoterismo etc. Mas somos todos culpados. E a culpa não é a pior tormenta. Uma tormenta é um enfarte. Ficará tudo bem, mas nem todos são capazes, nem têm as condições de ficar. Voltando ao caso da culpa, ela não é certeira, é incógnita e vitalícia, um bem mental que herdamos logo ao nascer. Estamos nos sujeitando cada vez mais ao constante desejo, ao constante sentimento de medo e derrota, ao constante debate de como ser ou não. Estamos nos sujeitando a nos vender para nós mesmos, sem receber nada em troca, só um certo ego motivacional. Precisamos de força, para alcançar nosso estado perfeito de fé, nossas benfeitorias e o amor por aquilo que queremos assegurar até o fim da vida ou pelo menos até boa parte dela. Eu não vejo uma certeza nas coisas e nem beleza concreta. Vejo o prazer delirante e a escultura de gelo representando a derrota iminente, pois queremos todo tempo vitória e todo tempo beleza. E digo mais... Essas questões nunca, jamais, irão se resolver enquanto formos gente.