Não faz muito tempo...
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Não faz muito tempo...
Planeta terra, início do século XXI.
Não faz muito tempo que, do nada, senti vontade de procurar algum site onde pudesse trocar ideias e conhecer pessoas novas e interessantes. Encontrei. Acessei, bati papo, matei a saudade de alguns fatos peculiares da minha existência. Algo novo, porém, chamou-me a atenção: o seu nick ‘estampado’ naquela sala... A priori, não consegui imaginar como conseguiria me aproximar de você – pensava comigo, enquanto 'folheava' o site. Será que conseguirei?! Resolvi enviar uma mensagem – na realidade era uma mensagem fática, de alguém que necessitava travar um diálogo com outrem.
Instantes depois, não me lembro bem, a surpresa. Recebi resposta comentando minhas colocações. Até aí nada de anormal, meu coração conseguia suportar tudo. Custou-me crer que, além da resposta imediata e gentil, estava lendo algo escrito por encantadora mulher. Senti-me privilegiado e fiz questão de reler. Confesso que ainda não batia em mim nenhum coração de homem, mas um coração-historiador, anônimo, que sentia ter, aos olhos, obra rara, dádiva dos deuses. Mas o tempo é o senhor dos amores. Veio um, vieram dois, vários textos. Da simples satisfação histórica, surgiu sentimento humano de carinho, de ternura e, por que no dizer, de iminente amor.
Hoje, não mais conseguiria dissociar meus pensamentos de alguém que veio muito forte e me atrai cada dia mais intensamente. Sei que ainda existem interpretações errôneas daquilo que realmente sou, das minhas 'intenções', dos meus propósitos, mas algo é certo: existe uma busca, talvez de uma amiga, talvez de uma paixão, talvez de uma irrealidade, talvez de novo amor (impossível?), mas existe, claro que existe busca!
Por que de uma amiga? Porque não se constrói um amor sem que se passe pela amizade verdadeira e sólida, de trocas e de doações recíprocas; por que de uma paixão? Porque é o passo seguinte – não existe paixão verdadeira erigida sobre amizade insidiosa; por que de uma irrealidade? Porque o tempo, senhor dos amores, pode mostrar caminhos outros que ora desconhecemos – talvez o convívio, o contato mais direto, mostre-nos que erramos e buscávamos algo que o outro não nos pode oferecer; por que de um novo amor? Porque a única certeza que temos é a da morte. Tudo o mais é fruto de conjecturas e de ações que fazemos a fim de transformarmos a nós mesmos e o mundo. Se não ousássemos, se nunca tivéssemos tido a coragem de mudar, de seguir novos caminhos, não haveria evolução.
Hoje, depois de vários contatos, ficam alguns questionamentos: será que mudamos? Será que nossos sentimentos, para com aqueles que nos cercam, mudaram? Existe burilamento interior, vontade de mudança? Se a resposta a todas essas perguntas ou a pelo menos a uma delas for SIM, é porque existe a vontade de seguir adiante, de tentar descobrir até aonde vai essa pseudorrelação que um dia, quiçá, sagrar-se-á a alcunha de AMOR.
Nota do autor:
Este é um texto fictício (parece real, não?), escrito durante o serviço do dia 04/02/02.
Talvez ele reflita, guardadas as devidas semelhanças, situações já vivenciadas por muitos internautas presos ao encantamento do mundo virtual e, de certo modo, indefesos diante de tantas perplexidades que esse ainda pouco explorado universo nos provoca, principalmente quando não sabemos exatamente o que dele podemos esperar nem o que dele buscamos.
Escrevi outros textos da mesma estirpe, tentando explicar e manifestar minha percepção do sentimento peculiar existente apenas a partir de relações vividas com essa peculiaridade.
Brevemente, disponibilizarei os demais textos na esperança de que, através da sua interação, eu possa mensurar até que ponto meu nível de percepção dessa irreal realidade do mundo hodierno interfere no cotidiano de milhões de pessoas que se escravizam, cada dia mais intensamente, sentindo e vivendo as emoções que uma tela oferta, gratuita e/ou nefastamente, pois nos modifica o corpo e a mente numa velocidade, por vezes, impossível de frenagem.
Grato!