MITOS NÃO SE COMEM

Escrevo aqui com meu olhar expandido, fixando o mundo de hoje e tendo por base a introdução do livro “LAS VENAS ABIERTAS DE AMÉRICA LATINA” de 48 anos atrás. As coisas não mudaram muito.

Este mundo que conhecemos é fruto de um processo que começou na Europa e se consolidou graças a Divisão Internacional do Trabalho. Nesta divisão, nas palavras de Eduardo Galeano, alguns países se especializam em ganhar e outros em perder. A América Latina é especialista em perder.

A única forma de negar o que agora lhes vou a dizer é sendo cego ou desonesto: A principal forma de manter os países sob controle é investindo capitais neles. O país que recebe capitais se torna escravo dos donos dos capitais e por eles são controlados. A América Latina tem suas políticas ditadas por gente que nunca pisou seu solo ou se o fez foi somente de férias para conhecer suas belezas naturais e usufruir de prostitutas. “Venha pro Brasil, país de belas praias e lindas mulheres”.

Quem tem pelo menos dois neurônios funcionando e viveu o suficiente para não mais acreditar em papai Noel e coelhinho da páscoa deve entender que caridade de países ricos é um mito mais falacioso que os dois acima citados. Toda a “ajuda” dos países ricos tem por objetivo mais ingerência nos assuntos internos e controle dos Estados pobres, visando contratos que entreguem as riquezas presentes no nosso solo e submetam a mais horas de trabalho nossos cansados braços.

As classes dominantes da América latina têm posto de joelhos os seus países frente aos EUA e às grandes multinacionais do mundo, porque elas nada sofrem dos males que sofrem suas populações. Querem que pensemos que entregar nossas riquezas é a única forma de nos desenvolvermos. Recebemos migalhas para entregar fortunas. Querem nos fazer acreditar que só vamos nos desenvolver se seguirmos a cartilha que nos ditam, mas a cartilha que nos ditam só tem multiplicado a fome e a ignorância.

Desenvolvimento para quem? Nos querem fazer crer que o objetivo de qualquer governo é o desenvolvimento da nação, mas a única coisa que tem se desenvolvido é a miséria. A cada assinatura de acordos internacionais, os governos dos países latino-americanos abrem mão da soberania do povo que sequer toma conhecimento de que não governam suas vidas. Nossas classes dominantes desfrutam de status, bem-estar e sentimento de superioridade nas “nossas terras", enquanto milhares de crianças morrem de fome, entram para o mundo do crime ou trabalham em sinais limpando vidros de carros. Este modelo de desenvolvimento desenvolve a desigualdade e nos dizem que todos temos chances, que todos podemos viver em bem-estar se trabalharmos muito e nos esforçarmos, mas isso é um mito criado com a intenção de nos enganar e os mitos não se comem. A população continua miserável.

Os donos do poder querem a tranquilidade, a permanência da ordem, a quietude do povo e a permanência de um sistema que só agudiza a fome e a incapacidade do povo de pensar criticamente.

Triste é ver que esse sistema conseguiu criar uma classe de mentes escravizadas que acreditam que o rico quer o bem do pobre e admira ao rico mais que tudo almejando um dia ser como ele, mas nunca será. Quando surgem pessoas saturadas de ver e sentir tanta injustiça e resolvem somar forças para fazer frente a classe dominante, eis que surgem as mentes escravas para lutar junto com seus amos, contra seus iguais.