desabafo sobre o fim da vida
Tenho uma doença rara e grave, por isso choro profundamente, mas também agradeço, se tudo é presente, comemoro sempre, e se nada é por acaso, tenho fé, que é a confiança no universo, Deus. A missão de estar vivo é o caminho que conduz ao conhecimento, estar atento aos detalhes. Mesmo que minha visão tenha sido afetada diretamente, só dessa forma pude enxergar novos ângulos, infinitas perspectivas. Mesmo que os hormônios estejam bagunçados, reorganizo-os em silêncio e calma. Do escuro se faz a Luz. Soube aos trinta que seria mãe, em seguida que corro risco de vida, daí me pergunto intrigada, quem não corre? Alguém me julgaria nova, mas me sinto tão velha! Já fui rocha, árvore, terra. Tudo volta renascido com o amanhecer. Entristeço quando penso em partir, naquilo que deixei de ensinar para minha filha, e ainda mais inteiramente me alegro pela sua luminosa existência. Partir significa concretizar a essência.Tanta dualidade, me resta a arte, e a catarse das emoções. Assim padeço de amor e poesia, estranha humanidade, na imortalidade dos meus escritos. E com eles mesmos, provo meu grau de sociabilidade, para contrapor os que me julgam anti. A poesia é atemporal, a vida não. Ela me salvou à vida e me criou no mundo, pluralizou cada instante em sentimento, eternizando-os. Por ti, por mim, por nós, naquele verbo agora.