Justiça seletiva e o caso do Rio de Janeiro
Prenderam os funcionários que venderam o laudo mas deixam soltos os patrões, que compraram. Justiça seletiva é isso!
O Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, anunciou que implementará câmaras de reconhecimento facial no Rio de Janeiro. Um dos bairros da capital servirá como teste no carnaval. O que não está sendo bem divulgado é que a Oi, empresa de telecomunicações que assumirá a responsabilidade de implementar esse sistema de câmeras, usará tecnologia chinesa — Huawei, para ser mais específico. Acrescento que iniciativa semelhante já ocorreu em Campinas no início do ano passado. Tudo isto sugere que a Huwaei decidiu comer pelas beiradas: notando que encontraria resistências no Governo Federal, a empresa decidiu, como me parece, fechar acordos diretamente com estados e municípios.
Quanto ao Rio, há ainda uma surpresa maior. Witzel anunciou com enorme satisfação que fechará uma parceria com a Rússia nas áreas de educação, telecomunicações e segurança, dentre outras. Não vi nenhuma reportagem contando detalhes dessa negociação. É bem provável, no entanto, que muita gente interessada tem servido como intermediadora. Mas de onde partiu esse interesse aparentemente súbito pelos russos? No caso dos chineses, muitas vezes se alegam razões econômicas: a China, com efeito, é grande parceira comercial do Brasil. Mas e os russos?
Cabe ressaltar que um dos secretários de Witzel é Pedro Fernandes, um quadro do PDT de Ciro Gomes, que, como é notório, foi apoiado pelo Partido Comunista Chinês. Esse mesmo Pedro Fernandes, agora secretário de Educação do Rio, havia disputado as últimas eleições para governador. Trocando em miúdos: acabou ocupando um alto posto da Administração Pública do Rio de uma forma ou de outra. Há ainda outra coisa. Num movimento que poucos ainda estão compreendendo, o atual governador se aproximou a tal ponto do Dep. Estadual André Ceciliano, um petista que está em primeiro lugar na lista do Coaf de movimentações financeiras atípicas por parte de deputados da ALERJ — quase R$50 milhões no caso dele —, que chegou a condecorá-lo durante uma cerimônia em meados de janeiro, enquanto o líder do governo na Assembléia, Dep. Márcio Pacheco, já afirmou que apoiará Ceciliano para presidir a ALERJ.
Poderíamos nos perguntar, aliás, se, após a enorme polêmica envolvendo a extravagante comitiva xing ling de deputados pequineses, dessa vez algum outro grupo resolveu agir mais discretamente para firmar essas parcerias com chineses e russos ou se integrantes da comitiva xing ling também estão envolvidos nisso tudo.
Professor, o fato é que gente do Rio, sejam deputados federais, discretos lobistas ou o próprio governador estão engajados em acordos com chineses e russos em áreas sensíveis. Se a União não fizer absolutamente nada a respeito, a segurança do país inteiro estará comprometida graças a ações semelhantes que poderão (e creio que deverão) ocorrer em todos os estados. (Cassiano Pereira de Farias)