Aflição

Aflição

Maria da Graça Almeida

Amanheci de casaca, só me faltou o cavanhaque. E o relógio de bolso.

Mas as horas estão aí, correndo às soltas, para quem as quiser ver.

E o que isso importa, se elas correm alienadas?

Respiro ameaças. Transpiro náuseas.

Meu peito mais parece um balão a explodir.

E sei que um dia explodirá, não há quem consiga suportar tanta indagação.

Ah, não sei o que é isso hoje...ou melhor, sei sim, é medo.

Indignação!

Sinto cheiro de sangue.

Posso perceber a perplexidade dançando nos olhos das crianças.

Pressinto os mares em ondas cruéis.

Tenho uma lágrima enroscada no olho. Não seca, nem desce.

Trago um nó na garganta que não desfaço, nem engulo.

Perdão.

maria da graça almeida
Enviado por maria da graça almeida em 13/03/2005
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