NO CAMINHO SEM MAIAKÓVSKI
ATO I
(“NA PRIMEIRA NOITE ELES SE APROXIMAM, ROUBAM UMA FLOR DO NOSSO JARDIM E NÃO DIZEMOS NADA”)
No início as mensagens eram só de advertência: “Evite o BLOQUEIO do seu saldo! Faça uma recarga e mantenha o seu saldo válido”.
Eu não disse nada.
Até que no dia 30 de julho - quando eu tinha um saldo de R$55,41 válido até 27 de agosto -, entraram no jardim e me roubaram a primeira flor por meio da seguinte mensagem: “Se você não efetuar uma recarga de qualquer valor HOJE, seu saldo será bloqueado! Faça uma recarga e não fique sem falar”.
Mais uma vez eu não disse nada.
Pus o rabo entre as pernas e fiz, desnecessariamente, outra recarga, VÁLIDA ATÉ 30 DE AGOSTO. Portanto, um mês inteiro.
ATO II
(“NA SEGUNDA NOITE JÁ NÃO SE ESCONDEM”)
Mas hoje, 48 horas depois do primeiro assalto, recebo a mesma mensagem com o mesmo prazo. Ou seja, tenho de fazer nova recarga HOJE, sob pena de sofrer o confisco do meu crédito e ficar mudo.
Com isso, presumo que essa chantagem vá se repetir a cada dois dias, sistematicamente.
ATO III
(“ARRANCA-NOS A VOZ DA GARGANTA E JÁ NÃO PODEMOS DIZER NADA”)
Mas antes que isso aconteça, antes que me roubem a voz, antes que pisem todas as flores do jardim, eu vou dizer alguma coisa, sem perder tempo com reclamações cansativas e inúteis. Vou dizer simplesmente o seguinte à operadora: Enfie no cabo! Isso mesmo. Pegue os meus créditos, pegue o meu chip e enfie tudo no seu cabo, bem fundo. Sob ameaça eu não vou fazer mais recarga nenhuma.
Mais CLARO, impossível.