A Ostentação do estar belo
"Juventudes eternas, corpos esculturais e peles sedosas de tão limpas, sem sequer uma mácula.
Ao mesmo tempo, mentes vazias, sem consciências sobre si mesmos e sobre o outro.
Perfeitos em tudo; pois não aceitam perder, não foram preparados para isso, quem perde não é merecedor da vida, não deve está junto dos belos. Egocêntricos e inteligentes em si mesmos, aproveitadores e descrentes de tudo que não lhes sirva para manter a tal: "perfeição desejada".
Desconhecedores dos prejuízos dos seus próprios atos e insensíveis a dor alheia, não possuindo tempo para filantropias reais, precisam garantir-se a si mesmos. Futeis ao extremo, amantes do exterior, apenas. Não sabem mais que existe um lado interior, pois se olvidam em valorizá-lo.
Vivem tamanha alienação que não se dão conta nem mesmo de quem são, nem do que estão se tornando. O "ser" não tem espaço, pois o "ter" se sobrepuja ao tempo presente, à ponto de não deixar brecha para uma xícara de café no final da tarde.
Não há intervalos disponíveis.
Ainda que passe rapidamente, como uma nuvem cheia d'água aparentando trazer chuva em seguida, assim vivem os homens atuais, sem tempo para o básico, cheios de afazeres, supervalorizando o estado de coisas em que se encontram, renunciando a própria dignidade justificada pela busca da sobrevida.
Não há como se perceber, nem valorizar-se internamente, devem "estar" sempre e "ser" nunca, aparentando simplesmente.
Parecer, e não ser, e ostentar um estado de beleza ad-eterna, ininterrupta e inacabada como se durasse para sempre: assim pensam os desavisados."