Paginando
Felizes somos nós, por termos a ilusão de que amanhã é possível continuar!
Fomos agraciados desde quando inventaram o dia e a noite, e com isso, o leve movimento do abrir e fechar os olhos, a doce impressão de inflarmos o nosso organismo com ar puro e enchermos o coração de alegria.
A dinâmica de alternarmos pernas e braços, permitindo-nos percorrer caminhos e direções distintas.
Estouvados somos, todas as vezes que viramos a página. Com isso, iludidos estaríamos se acreditássemos que sempre haverá mais uma página em branco, e nela pudéssemos voltar a escrever toda a nossa história.
Louvados somos, todas as vezes que lembramos de agradecer ao Universo pela página a ser virada. Afinal, nela deixamos um legado completo de histórias.
O amanhã não pode ser comparado à ambição, mas pode ser como o futuro. O dia que almejamos e creditamos nele os nossos anseios. Porém, um dia inexistente se pensarmos que nele estão contidas todas as oportunidades, desde o ponto de vista de que é preciso acordar para vê-lo acontecer.
Não deixemos de virar a página, se assim tivermos a oportunidade. Mas, lembremo-nos que no outro dia, esta será comparada à moda. E uma nova página e um novo futuro precisam ser escritos.
O que ficou, torna-se passado, o que é impreterível à morte e às idas e vindas de nossas páginas.
Temos uma vida por inteiro sempre que vivemos um dia por completo. E nele, nascemos e morremos ao abrir e fechar os olhos.
Não podemos esperar a morte. Ela não nos permite o agendamento de nossos dias. Mas podemos aprender a nascer e morrer junto a ela.
A vida que tivemos hoje, não pode ser comparada ao ontem, tampouco sujeitada ao amanhã.
O amanhã será o nosso hoje, a nossa vida, a nossa oportunidade de nascer e morrer feliz.
Viremos a página e nela deixemos vidas de verdade e vidas completas.
Assim, façamos com que a nossa vida de hoje não seja comparada à vida de ontem, que já não passa de um extrato. E no hoje, percebamos e aceitemos todos os convites do Universo para abraçarmos todas as oportunidades e morrermos como quem vive para sempre.
Poderia devanear se não tivesse envolvida na própria felicidade e a certeza de que, como o sol, daqui a pouco, pudesse iluminar todo o meu dia.
Correria o risco de não me lembrar do sonho que foi ser feliz no dia de hoje. E seria iludida, mais um vez, ao mover uma página que acordaria em branco.
Paginando foi a força leve de volver a página e levar o tempo da madrugada oscilando entre o morrer e o nascer de novo. E foi essa leveza que me permitiu escolher uma ou outra.