É BOM COMER MAIS VERDURA DE COR ESCURA... ou sobre como ser contemporânea, hoje em dia... ou de como até as pedras se encontram.

Ontem não fui trabalhar, porque tinha consulta em São Paulo, onde piso em caso de necessidade premente, como era, claro, o caso.

Uma baita alergia inchou meus olhos e outra comprometeu as vias respiratórias e, por conta disso, há um ano fiz várias consultas, exames e paguei por vacinas (Já contei sobre o caso do Durepoxi aqui, lembra?).

Agora o problema está resolvido: de tudo sobrou a bruta hipersensibilidade à exposição ao epóxi, contra a qual não há vacina; a solução é me manter afastada. Fácil.

O dia, ontem, começou cedo, muito cedo. Como tinha consulta às 13 horas, marcamos, também, com a Noemi, para entregar umas máquinas. Estamos limpando a casa de artigos que não usamos mais e fizemos contato com o Ricardo pela OLX.

Ele, da região de Campinas, tratou, e marcamos de nos encontrar com a Noemi, em São Paulo.

Contatos pelo WhatsApp feitos, nos encontramos na recepção da sede de um conglomerado. Noemi, educadíssima, belíssima, tudo de bom de -íssima, nos recebe: "Está tudo aí?", e aponta para a grande caixa.

Sim, está. Ela entrega as cédulas.

Ué! E se tivesse só tijolos nelas? Perguntamos se não queria ver, aferir.

Ela não entende nada, mesmo, não iria adiantar.

Comentamos que a subida pela Imigrantes foi fácil, o trânsito, livre; mas, para chegar até lá levamos duas horas, um horror, tudo congestionado!

Ela mora em Indaiatuba, não em São Paulo. Vai de fretado e o marido não pisa mais na capital, nem morto. Pode estar se acabando, mas nem para médico volta a São Paulo. Começa a ter alergias, sufocamento, mal estar. Para médico, ainda voltamos.

No hospital, reencontro a Doutora Telma Rita: "É bom comer mais verdura verde escura."

- Anemia?

Não, está bem. Muito bem. Você está com mais saúde do que eu. É que eu gosto de ver este índice um pouco mais alto.

Me penso meio hippie (ou penso assim sobre mim) - ou quase isso - desde que meu genro Rodrigo fez um comentário a respeito (a mania de natureba, o faça-você-mesma, o artesanato).

De todo modo, eu - que pela primeira vez na vida não apresento sinais de anemia nos exames (sempre pouca, é verdade, mas sempre também confirmada pelos laboratórios), aponto as verduras do quintal que vão à mesa: taioba, folhas de batata doce, beldroega, capuchinha, ora-pro-nobis...

- Como você faz ora-pro-nobis?

- Refogada, crua, em ometele, no macarrão,...

- Crua? Dá pra comer crua?

- Dá. É lavar e cortar fininho. Só temperar.

O assunto se encaminha para as fisalis - para saber mais sobre physalis ou fisalis, clique aqui [2] -, espalhadas pelo meu quintal, e ela comenta com a médica ao lado: "Ela tem o quintal cheio de fisalis". Falo das sementes, da origem dos pés do quintal e de como plantá-las e brinco: "Daqui a pouco vou andar como o pessoal da roça, com uma sacola cheia gêneros para agradar o médico, os amigos... Só não tenho galinha."

A doutora, que mora em uma casa com um terreno generoso, rebate: "Ah, galinhas, eu tenho."

Então emendo a fala apontando minha "plantação" de morangos.

A doutora despreza os morangos: "Morango não tem gosto de nada, só do que se junta a ele."

Não é verdade. Inhame é assim, chuchu, também, mas os meus morangos têm um sabor marcante, forte, como os de antigamente. Com eles faço sorvete, pavê, sucos, e agora, por conta da visita-consulta, descubro o porquê de tanto sucesso.

morangos com gosto de morangoNa São Paulo poluída e indigesta, até os alimentos são hoje insossos.

Há muitos anos pêssegos em calda enlatados não entram em casa; foram substituídos pelos tomates cereja, feitos em calda, que têm muito mais sabor de pêssegos que os próprios pêssegos. Coisas de cidade grande e seu abastecimento, do colher verde e maturar com gás, em estufas, sem a paciência dos pomares e hortas caseiros que adoçam o alimento no pé, com sol e afeto.

Na volta para casa e hoje pela manhã, a caminho do trabalho (onde chego em 5 minutos), me senti super-hiper-demais-contemporânea.

Nada mais ultrapassado do que consumir hormônios e agrotóxicos. A moda, agora, é criar galinha e cultivar horta no quintal, mel e rapadura.

Beijos!

[1] CUIDADO! DUREPOXI É ALTAMENTE TÓXICO. Fazendo miniaturas, terrários e me intoxicando.

[2] CULTIVANDO PHYSALIS ENCONTRO UMA NOVA ESPÉCIE (A PHYSALIS ANGULATA L.) A NATUREZA PREGA PEÇAS.

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Maria da Gloria Perez Delgado Sanches