Vida deficiente...*

Estudos, teses, tratados, não há receita de como se viver feliz. As vezes penso que o ser humano desaprendeu o que é natural em função do que é ensinado, impingido goela abaixo por "educadores sociais". Séculos e séculos de imposição racional conseguiu conspurcar a vida em sua beleza inerente, o sentir. Aprendeu que tudo tem um preço, e desaprendeu que o que realmente vale a pena, não tem preço que pague.

Não, não sou estudiosa, cientista, nem política, muito menos religiosa. Sou alguém simples, mulher, mãe, menina, uma criança muito, muito antiga. Essa antiguidade me confere o direito adquirido de expressar o que vejo, noto, analiso e por conseguinte, deduzo.

Ando pela rua e vejo crianças com fome, fome de afeto, abrigo, compreensão e principalmente , amor. Saio e vejo jovens em suas "tribos", tentando uma identificação que os leve a "pertencer" a algo, alguém. Quando deveria ser claro que todos pertencemos a mesma espécie e tribo: a humana. Vejo mães que se anulam por filhos que anulados são pelo mesmo circulo vicioso de egoísmo canibal. Vejo casais que em nome de uma sociedade paraplégica nao sabem mais quem são, o que desejam, e nem porque. Afinal, "convivemos" ou ao menos deveríamos conviver bem e harmonicamente entre nós. Quantos perdidos dentro de si mesmos, ou escondidos por vontade própria? Ocultos em seus medos, protegidos por um egoísmo cego, surdo, mudo e paralítico, atrofiando cada vez mais o ser e o "coisificando".

Gente, gente que procura desesperadamente alguém que olhe e os "veja", que ouça e os "escute", que lhes fale e os "toque".

Crianças, jovens órfãos, trocados pela novela, filmes, jogos, "amigos", cinema, jantares...tudo socialmente aceitável, recomendável até.

Pais estéreis...foram substituídas as poucas horas de companheirismo pela tv, pelo som, pelo microcomputador, pelo game de ultima geração, isso quando não o foram pelo álcool, pela droga, pela prostituição.

Trabalho com pessoas, e em última análise, trabalho com a solidão. Solidão que gera dor, que gera angustia, que gera revolta, que gera carência, que gera medo, insegurança que isola e gera ainda mais...solidão.

Ja dizia um pensador, que a grande chaga da humanidade é o Medo, eu teria a audácia de acrescentar o egoísmo, a esse pensamento. Egoísta escravo do próprio ego; altruísta, escravo do ego alheio. Aprisionado em si mesmo, pelo medo até mesmo de poder ser feliz.

E assim, somos todos, em maior ou menor grau, doentes...da alma. Logicamente há exceções, não me cabe apontar ou salientar quem sejam, onde estejam, e por certo, se aqui me manifesto, é por falar de algo que existe em mim também.

E porque escrevo? Porque diagnosticada a doença...busca-se a cura.

E onde a cura? No âmago de cada ser humano.

Negaria minha parcela de responsabilidade ao omitir o que penso, e se penso, falo, e se digo então, devo fazer, ser coerente com o que acredito e apregôo.

E o que creio?

Seremos seres humanos quando alem de colocarmos o amor em cada frase, o inserirmos também em cada gesto para conosco e com quem convivemos.

Porque a cura para todos os males: o AMOR só está, onde o deixamos entrar.