QUE INVERSÃO DE VALORES...
[...] Aprendi que deveria ser educado e buscar o bem de todos, não só o meu. E, quer seja, a religião, minha mãe, os mais velhos, estudo, trabalho ou profissão que exercesse deveria demonstrar o quanto sou digno de crédito, respeito ou qualquer tipo de consideração por quem quer que fosse. Percebia que a vida não era fácil, mas mesmo assim, insistia em procurar alcançar este ideal de vida, não só meu.
O tempo foi passando e eu, sempre observando as mazelas, as dificuldades. Sentindo diariamente o quanto custava viver aqui, e continuar agindo de forma a não me aproveitar de ninguém. Que preço, muito caro para mim, que sentia na pele o peso de ser apenas correto. Parecia que tudo incomodava, desde as brincadeiras de colegas ao fato de receber troco a mais, quando da compra de uma bala e fingir que nada aconteceu; conduta por vezes repetida pela maior parte dos meus colegas. E isso muito chateava. Se achava algo na rua, observava e logo procurava entregar ao seu legítimo dono, e se não o conhecendo dava um jeito de identificá-lo... ficar com algo alheio era um absurdo, fora de cogitação. E, na verdade, preferia mesmo era não encontrar algo, em vez de se apossar de "coisa de outrem". Afinal de contas, não precisava de nada de alguém, e tinha aprendido, desde cedo, a cuidar do que era meu, e lutar em prol do que precisasse ou quisesse; isso bastava. Percebia o quanto vivia numa inversão de valores, e, comparados aos meus,aos que tinha aprendido e crido, era um violação não só aos outros, mas a mim viver como os demais. Que inversão, que violação, que dilema existencial, que dura realidade lamentável[...]