O DONO DA BOLA

Bastava acabar a aula e a gurizada corria para o campinho, todos submissos ao dono da bola.

Ele, o dono da bola, não concorria aos 5 minutos como goleiro, quase nunca cometia faltas e toda vez que perdia a bola, era por falta do adversário.

Logo atrás da cerca, havia um sarrafo, com meio prego de fora, um prego enferrujado, quase partido. De lá ele sofria, com a arrogância e prepotência do dono da bola e quase dono do mundo. De tanto sofrer, o prego queria vingar-se.

Bastou uma falta requisitada pelo próprio dono da bola, para que o prego se preparasse para furá-la, retesou-se o que pode, fechou os olhos e ficou torcendo para que o goleiro não defendesse o pênalti. Bum, bem na mosca, o prego, um pouco mais torto, fez murchar o dono do mundo.

Então a gurizada aprendeu que não há donos do mundo e que a cooperação uniformiza e socializa os movimentos. Bastaram R$ 5,00 reais de cada um para que todos fossem iguais.

Sempre haverá um prego para murchar os calos da soberba humana.

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 27/08/2017
Reeditado em 27/08/2017
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