"O bicho da goiaba"
Não acreditei no que via. Mas havia acreditado na palavra da dona da frutaria, que me assegurou a qualidade das suas goiabas. Realmente a formosura da casca dava a entender isso, mas se até algumas pessoas podem ser perfeitas por fora e podre por dentro, do que tenho a reclamar?
Ah bichinho danado! Tão frágil, mas consegue romper a casca e apreciar o melhor da fruta.
Não me dei por vencida, quem sabe poderia aproveitar a outra metade? Mas lá tinha mais uns dez. O bichinho tinha mudado em família.
Antes de jogar a goiaba fora, fiquei pensando: Será que quando eu morrer vou ser devorada por um bichinho semelhante a esse?
Fiquei pensando, como essa casca humana não vale nada mesmo.
Que destino, ser devorado por bichos asquerosos! Que aliás, nesse momento valerão mais do que eu mesma, pois estarão se alimentando e garantindo sua sobrevivência.
No fim dessa reflexão me convenci ainda mais, de que realmente intocável em nós, é o espírito, desse, nada nem ninguém pode alimentar-se, e bicho algum pode violá-lo.
Depois disso, desisti da goiaba. Que os bichos a devorem.
Afinal, todos têm direito a vida.