Máscaras

Muitas vezes, admitimos aquilo que não somos, e por vezes, negligenciamos a nossa própria natureza. Paramos defronte ao espelho e nos despimos do nosso “eu”, nos suprimos de máscaras, nos fantasiando, e com alegorias pitorescas, fugimos daquilo que deveríamos ser. Começamos com vestimentas, maquiagens, mudanças no cabelo e outros adereços, etc. E chegamos a um rol de hipocrisia moral e subversiva, que seria impossível enumerar. Chegamos com sonhos, muitas vezes, enamorados de uma realidade tangível, mas não logramos êxito em alcança-la, devido à pequenez da nossa satisfação pessoal e ao egoísmo que inunda a nossa alma. Nossos medos, temores e pecados, esses nos levam a um fracasso moral, porquanto nos julgamos superiores, usando a máscara da sapiência, dizendo ser o mais sábio, ou o mais intelectual, o mais rico ou mais poderoso, o mais bonito, ou o mais sensual, enquanto no nosso interior, mastigamos o amargo e sentimos o gosto de um vazio que parece jamais ser preenchido. As máscaras que usamos nos impedem de vermos a face oculta da nossa invalidez e atrofia espiritual, para um verdadeiro crescimento e felicidade. Somos o que parecemos ser no trabalho, junto à sociedade, como um ícone de perfeição e justiça, mas dentro de nós mesmos, impera uma sombria realidade de dor e desconforto, porque não sabemos nos despojar da vaidade, desse desejo de “ter”, que ora nos impulsiona a esse mundo hostil, para darmos lugar ao “ser” e ao amor que nos traz paz e serenidade. Queremos muitas vezes, que o mundo “exploda”, para que, dentro de nós, imploda também o orgulho que nos consome e nos diminui a cada instante, sem que percebamos. Buscamos riquezas matérias, e nos sujeitamos a diversas situações para satisfazermos o nosso ego consumista, enquanto bastaria uma casinha branca com portas azuis, uma varanda com flores ao redor e um cachorro que latisse apenas para avisar sobre uma visita inesperada. Mas muitos julgam pouco o que tem, porque necessitam sempre de algo mais, se jogam numa busca desenfreada e perdem parte da vida, num desajuste de emoções. Se tiverem o ar, querem também asas, para alçarem voo e quem sabe, num sonho de Ícaro, chegarem ao sol. E querem trilhar caminhos novos, deixando rastro no asfalto, se esquecendo da poeira daquela estrada de terra, que conduz a uma felicidade inaudita, e que aos olhos dos filhos, talvez servisse apenas para os pais, porque uma nova trajetória seria inevitável. Bem, depois de tudo, quando ainda não estamos preparados, vem a nossa maior inimiga, com sua prepotência, e leva tudo isso que um dia chamamos de nossa vida, por pura vaidade. Porque a vida passa como um sopro e o que existia, já não é mais. Tudo é vaidade, sob uma máscara influenciadora de uma existência quase subjetiva. Vivamos cada dia, segundo o conselho de Mário Quintana: “Quando abro a cada manhã a janela do meu quarto, é como se abrisse o mesmo livro, numa página nova...” A vida é uma só, devemos vivê-la com sabedoria.

Jorge Antonio Amaral
Enviado por Jorge Antonio Amaral em 03/02/2017
Reeditado em 28/03/2017
Código do texto: T5901482
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.