Jardim vazio
Há anos, parece que o chão do jardim não é mais o mesmo. As árvores, as flores, os campos deram lugar ao vazio. O cinza predominante das lágrimas que viraram um rio. Agachado, a terra parece não ter mais vida. Daquele canto de casa, não restou um nada.
Com fincadas no coração, machucados abertos, caminhar pelo nada tornou-se uma tortura interna. Olhar os lados e ver que aquele pedaço não existia era amargar pelo arrependimento imaturo de não estar ali. Saber que Cronos alimenta-se do prato principal, o tempo, isso não tem como impedir ou voltar a atrás. Regurgitar não seria a melhor opção.
Com o tempo, no caminhar dos passos trêmulos da vida sem chão, as cicatrizes continuam abertas, mas doem menos que antes. O vazio sempre estará pendurado. Não um eco. Apenas o seu. Nesse andar, de anos, as últimas folhas verdes são encontradas. Colocas em mãos secas, são carregadas e caminham para mesma direção dos ventos.
Ao final, vejo um banquinho. Simples e generoso. Senta-se e observa as folhas verdes. Por que estão vivas? Olho ao lado, um pequeno raio de sol. Frio, mas com pingos de cor, meus olhos parecem fixados. Os ventos estão fortes. Eles pendem pelas folhas. Um hesito. Jogadas aos céus, vão em direção ao sol. A serenidade madura. Hoje, maduro, o tempo foi necessário para aproveitar os dias. Não há um comemoração. Nem uma tristeza. Há apenas um silêncio, do sereno.