Eu queria ter nascido nessa época...

Eu queria ter nascido na época em que era tudo simples. Na época em que as pessoas mandavam cartas. Na época em que os meninos enfrentavam o medo e o frio na barriga pra falar com uma menina pessoalmente. Na época em que as pessoas faziam questão de embrulhar a lembrancinha, ainda que fosse um par de brincos. Na época em que os filhos ainda pediam a benção aos pais, sem esquecer de quando acordar, dormir, sair e voltar. Na época em que seus coleguinhas não se importavam se o carrinho era daqueles com controle remoto ou se tinha um cordão que você puxava pra ele sair do lugar, eles só queriam se divertir, isso bastava. Na época em que a mocinha já ficava bastante satisfeita e surpreendida com a flor que era arrancada para o mocinho poder dá-la, e sim, não era um buquê, era uma flor. Na época em que os pais ficavam constrangidos se vissem seus filhos presenteando uma briga deles. Na época em que pra namorar teria que ter permissão de pai e mãe, e o namoro era de cadeirinha. Eu queria ter nascido nessa época, mas eu não nasci. Na vida a gente não escolhe nem nosso próprio nome, imagina em que época nascer. Eu aposto como tudo era lindo, mesmo com toda a dificuldade de enviar a carta, falar com o pai da mocinha, e até surpreendê-la com somente uma rosa. Era simples. A gente complicou tudo. Temos um celular pra se comunicar. Temos festas e eventos pra poder se encontrar com a namorada ou namorado e amigos. Temos ousadia o suficiente pra alterar o tom da voz e mandarem nossos pais calarem a boca ou pararem de brigar. E pra quê benção de pai e mãe, se temos festas e uns amigos? Já tá benção até demais. E a gente se importa sim com o brinquedo, tem que ter controle remoto, pra que eu possa mover o carrinho no meu devido lugar. E pra quê embrulhar presente, se vai abrir sempre. E pra quê rosas, se temos mamãe e papai pra presenteá-la com uma roupa e aquele sapato que tá super na moda e que a pessoa ama (porém você não sabe nem simplesmente qual que ela gosta), mas que depois pergunta, afinal temos tanto tempo!? NÃO, NÃO TEMOS. O tempo passou e viramos máquinas. Cadê os olhares e sorrisos? Cadê o 'eu te amo' escancarado na tua cara? Cadê abraços e amassos com gosto de saudades? Isso já existiu! Isso existe! Precisamos apenas deixar de lado o toque skin do celular e dar um toque na vida. Eu acredito no resgate da simplicidade!

Rayssa Moreira
Enviado por Rayssa Moreira em 15/12/2016
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