Carta aos Burocratas

Prezada Burocracia,

Preclaro Sr. que a representa,

Do fútil trono que a ti reclama à honraria do cargo que abona. Vossa Mercê que muito têm a sua volta, acaso perguntaste porque aqueles que o procuram tanto tem a reclamar?

Notaste que a intolerância que a todos aflige perpassa pelos caprichos pessoais de Vossa graça em nome do Poder que lhe foi delegado? Vê-de que vossa alteza justifica o dever não cumprido nos estritos contornos da norma (e que mais parecem regras etiqueta!).

Recusa-te a protocolar, porque os contornos deveriam ser mais arredondados.Recusa-te a protocolar porque os documentos estão a 1,5 cm abaixo das normas. Recusa-te a protocolar porque o paciente não pode pagar após morte sem que hajam garantias fúnebres.

Assim como Vossa senhoria que com veemência (palavra que se destina a seletiva cegueira), autoridades militantes que diante de Nuremberg juram fidelidade ao cargo e à lei, subscreveram lucubres e mórbidas cartas à desumanidade humana.

E se pensais que exagero ao confrontar a predileção da conduta que te recusas a praticar com a barbárie, então, responda-me: há vida nessa requisição ou foste estas folhas assinadas por aqueles que aqui não mais estão? Incomoda-te tanto quanto as vidas que por ti se aborreceram ao notar que não consegues satisfazer pretensões assistidas pelo direito? E não são as frustrações o princípio e a causa de tantas doenças?

Não acuse-me de impaciência. Empáfia és tu! Matar a plebe aos poucos é a própria definição de tortura! Coincidentemente algo muito semelhante ao nãos que gritou para calar o sim, não lhe faltasse uma pequena dose de bom senso.

E como será quando estiver distante da tua caneta de ouro? Como há de ser quando estiver diante de circunstâncias que não possas controlar? Pois a que vejo, já se foi o tempo dos reis e teu Poder limita-se a jurisdição que lhe foi imposta. Um dia o cargo tal qual vossa magnificência encontrará vacância. Um dia teu trono estará ocupado por outro e tu não farás falta a ninguém.

Esperai, então, por uma severa condenação tão severa quanto aquela que impiedosamente usaste contra os outros, ou esperai que os outros convosco flexibilizem a norma a quem com rigor tanto jurou amar?

Assim, não restando nada mais a dizer e sem poder acatar o que requer, aguardo o envio daquela procuração que visa legitimar a representação do teu elevado grau de (in) competência!

Autor: Augusto Felipe de Gouvêa e Silva.

Blogguer: https://opoetacuritibano.blogspot.com.br/

Instagram:@opoetacuritibano

Facebook: https://www.facebook.com/O-Poeta-Curitibano-1842278299341552/

Poeta Curitibano
Enviado por Poeta Curitibano em 20/10/2016
Reeditado em 04/01/2017
Código do texto: T5798033
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.