PENAS E GOZOS FUTUROS
O conceito de céu e de inferno sofreu grande transformação com o advento da Doutrina Espírita. Não se traduz mais por regiões circunscritas de beatificada felicidade ou de sofrimentos atrozes e eternos, respectivamente.
De existência a existência, entretanto, aprendemos hoje que a vida se espraia triunfante, em todos os domínios universais do sem-fim, que a matéria assume estados diversos de fluidez e condensação, que os mundos se multiplicam infinitamente no plano cósmico, que cada espírito permanece em determinado momento evolutivo, e que, por isso, o céu, em essência, é um estado de alma que varia conforme a visão interior de cada um.
Inferno se pode traduzir por uma vida de provações, extremamente dolorosa, com a incerteza de haver outra melhor. Portanto, a felicidade ou infelicidade após a desencarnação é inerente ao grau de aperfeiçoamento moral de cada Espírito e, também, à categoria de mundo que habita. As penas ou sofrimentos que cada um experimenta são dores morais e estão em relação com os atos praticados. Não existe, pois, uma recompensa ou sofrimento gratuito, obtido sem mérito, mas manifestado através da Lei de Causa e Efeito.
A alma ou Espírito sofre na vida espiritual as consequências de todas as imperfeições que não conseguiu corrigir na vida corporal. O seu estado, feliz ou desgraçado, é inerente ao seu grau de pureza ou impureza.
A completa felicidade prende-se à perfeição, isto é, à purificação completa do Espírito. Toda imperfeição é, por sua vez, causa de sofrimento e de privação de gozo, do mesmo modo que toda perfeição adquirida é fonte de gozo e atenuante de sofrimentos.
Não há uma única imperfeição da alma que não importe funestas e inevitáveis consequências, como não há uma só qualidade boa que não seja fonte de um gozo.
A soma das penas é, assim, proporcionada à soma das imperfeições, como a dos gozos à das qualidades.
Em virtude da lei do progresso que dá a toda alma a possibilidade de adquirir o bem que lhe falta, como de despojar-se do que tem de mau, conforme o esforço e vontade própria temos um futuro aberto a todas as criaturas. Deus não repudia nenhum de seus filhos, antes os recebe em seu seio à medida que atingem a perfeição, deixando a cada qual o mérito das suas obras.