CAMINHOS E ROTEIROS MÍSTICOS
Turismo, Cultura e Fé
Nadir Silveira Dias
A nossa cultura é impregnada de fé. Aliás, da mesma maneira como o foi o homem ancestral e o aborígine da Austrália, em sua atualidade, dentre tantos outros povos, na tentativa de contato com o superior, com o Criador de tudo que existe. A diferença reside exatamente e apenas no modo como o fazem os seres das cidades e os que ainda vivem um pouco mais distante da dita civilização.
Não é à-toa que a indústria do turismo cresce no mundo com base na exploração desses pontos que evocam o passado remoto e as energias vitais que todos nós sempre buscamos em todos os tempos.
Independentemente de inúmeros pontos menos conhecidos, como pode ser o caso da Pedra do Segredo, em Caçapava do Sul (do guarani Caa-ça-paba, clareira da mata), temos exemplos famosos como o Caminho de Santiago de Compostela, no Velho Mundo, percorrendo a Galícia, Pirineus, França, Espanha, em longo trecho que pode alcançar 800 quilômetros.
No Novo Mundo, o Circuito dos Andes, acima e a noroeste da peruana Cuzco, antiga capital do Império Inca e por isso mesmo cognominada a capital arqueológica da América do Sul. E em quase oitenta quilômetros, com o íngreme caminho para alcançar a cidade de Machu Picchu, relíquia pré-colombiana descoberta apenas em 1911, por Hiram Bingham, e aquele rosto olhando para o céu infinito. Rosto escavado nas rochas. Pelos próprios incas escultores nativos do passado ou pelos deuses astronautas interestelares?
Verdade, no entanto, é que também já temos os nossos próprios caminhos: São Miguel, São Nicolau, São Luiz Gonzaga, Santo Ângelo, e Sepé Guerreiro, iniciados ainda no Rio Grande – Brasil - espanhol, para a caminhada por trilhas usadas pelos índios e pelos padres jesuítas nos percursos que ligavam as Missões Jesuíticas Americanas e os Sete Povos das Missões, em particular.
Em termos de quilômetros a percorrer, ainda são incipientes os roteiros. O maior ainda está por vir. O objetivo futuro é unir os caminhos das Missões Brasileiras e Orientais, para caminhadas de mais longo curso.
E nesse ponto não posso deixar de lembrar o recente trabalho do missioneiro cantor, músico e compositor Jorge Guedes – ao lançar o compacto-disco “Das Missões às Cordilheiras”. Um belo e magnífico trabalho de integração regional e latino-americana que vem sendo realizado pela fronteira oeste desde os tempos em que sequer se pensava em Mercosul ou qualquer outra forma de integração econômica.
A integração cultural era e sempre foi, como ainda o é, presença marcante nas fronteiras da pátria.
Por isso, esses caminhos constituem fomento da cultura e da integração entre os povos. E os roteiros atualmente disponíveis envolvem os cinco municípios missioneiros de São Luiz Gonzaga, São Nicolau, São Miguel das Missões, Santo Ângelo e Entre-Ijuís.
E três são os percursos culturais e místicos atualmente disponíveis. Três locais de partida. Um único local de chegada: o município de Santo Ângelo, que possui a sua Catedral quase-idêntica a que está em ruínas, em São Miguel das Missões.
Para quem deseje percorrer 180 quilômetros, durante sete (7) dias, a saída é do município de São Nicolau (fundado em 1626).
Do município de São Luiz Gonzaga, com sua belíssima e mística Igreja que apresenta o Natal Luz das Missões, para quem pretenda andar 130 quilômetros, durante cinco (5) dias.
E de São Miguel das Missões, para quem quiser fazer o trajeto de 78 quilômetros, em três (3) dias.
Já se encontram programadas as caminhadas para todos os meses do ano, no sentido de atender o anseio, a aptidão, a coragem, ou o mero interesse turístico ou cultural de peregrinos experientes ou amadores entusiastas. Informações mais detalhadas podem ser obtidas no saite http://www.caminhodasmissoes.com.br.
Prepare-se, programe-se e muito boa caminhada!
Escritor e Advogado – nadirsdias@yahoo.com.br