Felicidade Já
FELICIDADE JÁ! *
Joana se dizia perseguida pelo tal do azar, resmungando feito uma matraca velha e enguiçada.Como era cricri, meu Deus!
Para ela não existia tempo bom, dia bonito e nada perfeito.Era uma “acorrentada” do destino infeliz e cruel.
O mundo inteiro lhe perseguia e não deixavam que fosse feliz. Esta era a ladainha que pregava logo cedo, deixando Seu Roberto maluco e de cabelo em pé.
- Ê mulher!
Não sentia mais gosto pela vida e seu coração havia se transformado numa mala sem alça, cheio de antipatias e rancores sem motivo.
Falava mal da vizinha da frente sem nunca terem sequer conversado.
Joana simplesmente implicou com a cor do cabelo da moça desde o primeiro dia que se encontraram no portão.
- É a cor da fofoca - pensava e não queria papo.
Já fazia bico de duas dobras e ficava de cara feia.Os seus preconceitos lhe deixavam “amarga”, sozinha e triste .Não curtia os momentos da vida; não fazia nada que lhe desse prazer ou que lhe fizesse dar uma gargalhada gostosa .
Esta doença chamada mau humor foi lhe corroendo por dentro e já sentia o peito pesado com todos os seus sentimentos negativos, lhe deixando cada vez mais para baixo .
Nisso deu a sua própria sentença, diagnosticando que estava no bico do corvo e pronto! Com tamanha dor no peito só poderia estar a um passo de um piripaque e BUM!
Cheia de minhocas na cabeça, imaginando estar nos seus últimos dias de vida, se derreteu em lágrimas mudando até o tom de voz; era “querido” daqui e “benzão” dali.
Não querendo partir assim sem deixar um pingo de saudades, resolveu botar para fora todos sentimentos mais íntimos.Que transformação!
Fazia doce para o marido, bolo de chocolate com glacê para a criançada da rua e bolinho de chuva para o carteiro.Quando lhe perguntavam se era aniversário de alguém, Joana simplesmente sorria dizendo que não existe uma data certa para se comemorar algo:
- Todo dia é um motivo para festa!
Na sua cabecinha do tamanho de um alfinete, já se via a um palmo do chão, vendo a grama crescer por baixo.
- Estou partindo!-choramingava com lágrimas de sangue.
Na verdade aquela dor no peito forte era provocada por excesso de energia negativa e com muito medo de morrer, tomou até a atitude de fazer as pazes com a vizinha do cabelo vermelho.
Dizia coisas ao marido que nunca teve coragem nem em pensar:
- Roberto, eu te amo desde o primeiro dia que te vi de sunga na costeira do Perequê Açu!- melou.
Nossa, que declaração!Joana foi aliviando a sua alma aos poucos e já se sentia mais leve e cheia de saúde.E a danada da morte, nem chegava perto.Nem se lembrava mais da dita cuja, se acostumando a ter um outro estilo de vida.
Passou a desejar mais a companhia do maridão e planejaram até em uma segunda lua-de-mel.
Com o passar do tempo esqueceu-se definitivamente daqueles pensamentos negativos, transformando-se na vizinha mais querida da rua.Aquele peito amarrado, repleto de preconceito e mau humor esvaziaram deixando em seu lugar um coração livre para ser muito mais feliz.Aqui e agora, porque o amanhã já é futuro e precisamos viver este momento como se fosse o único, fazendo dele o melhor de todos.
Silmara Torres Retti