O PERFIL ACADÊMICO

O academicismo de Letras – qualificativamente – perfaz-se pelo número de obras publicadas e à disposição do público leitor. Atenta que não é correto vir a ser empossado em associação literária visando atender ao convite dos confrades acadêmicos somente com base na imagem social ou no poder aquisitivo do postulante, mesmo que este seja um bom ativista cultural. As entidades do associativismo literário, especialmente as de Letras e Artes existentes no RJ e SP, têm largo interesse em provar que a associação tem abrangência nacional e, para cumprir este desiderato, é sempre conveniente cooptar associados para a sua academia nas localidades mais distantes do centro do país. Por esta razão pragmática, os escritores do RS são muito procurados, afinal, o Rio Grande é a unidade federada mais ao sul do País e tem, segundo as estatísticas, o maior índice de leitura habitante/ano. Acho que tens muito valor pessoal, porque se não estarias preocupado com outra atividade mais prática (e mais rentável), porque o academicismo não é para quem quer, e sim para quem tem talento, acredita e persevera nas Letras. O que consolida os laços é a convivência no academicismo, tanto no mundo fático quanto na virtualidade. Respeito muito o teu entusiasmo e dedicação como acadêmico recém-empossado. Sei bem que esse é um momento ímpar na vida do escritor: o do reconhecimento perante os pares de ofício. Reitero: o que vale mesmo, o que mede a possibilidade de um frutífero exercício acadêmico é o número de obras (impressas, especialmente) que são oferecidas à comissão de seleção e ingresso, à hora da postulação. Prestígio social, econômico e financeiro, são coisas diferenciadas, pertencem a outro patamar, que não o literário-associativo, mas ajudam nessa hora de conquista de espaço junto a confrarias literárias. A atividade acadêmico-associativa não é algo encontrável de somenos no lugar comum da vida em comunidade, é um bem imaterial que decorre de postura filosófica altruísta e solidária, dotada de muita entrega pessoal ao coletivo, visando formar leitores e não apenas para bajular o Ego. Acho que estás com uma ótica muito diversa do que poderá ornar o juízo academista: não é o dinheiro na algibeira que vai te fazer acadêmico, mercê de termos, tristemente, várias instituições que privilegiam este critério mercantilista. O que mais importa para o ingresso em academias como membro titular é a qualidade da obra, visando aumentar o patamar de credibilidade do autor e do sodalício, bem como ser afável e bem-humorado no trato com os seus concidadãos. É lícito esperar-se que esta afabilidade norteie o perfil do novel acadêmico dentro do quadro efetivo-titular da associação. A não ser que o teu desejo seja o ingresso como sócio benemérito, cujas ações se traduzem, em regra, pelo aporte material aos cofres da instituição ou ações traduzíveis patrimonialmente. Mas isto é outra história...

– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2014/16.

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