O POEMA NATIMORTO

Compreendo o que queres dizer quanto ao poema no âmbito da gaveta, sem vida, natimorto. Porém, este não está em discussão, visto que é exceção, a regra é o nascimento e entrega imediata ao público, ainda mais nos dias que correm, com a virtualidade internética... Portanto, nunca falo nesta hipótese, porque o poema na gaveta inexistirá como lavratura no mundo dos fatos, exceto quando somente esteja de “molho”, cumprindo um período de maturação da peça textual, para publicação futura. Tal peça anônima – que só aproveita ao seu autor – não é objeto de abordagem com algum valor utilitário. Este exemplar só tem validade e existência para o poeta-autor, por tal ou qual razão, porém, normalmente é fruto do amadorismo diletante ou primarismo do seu autor, que ainda não entende que a Poesia exsurge da confraternidade gregária e por ela toma corpo e destinação. Repito: enquanto a peça poética não foi publicizada, ela inexiste como objeto de arte, porque é de sua essência a exposição ao público. É necessário o poeta-autor apresentá-la ao poeta-leitor ou receptor. Reitero que entendo que o poema que foi criado e continua na gaveta é um espécime natimorto. Ressalto que não está em pauta os efeitos psíquico-terapêuticos ou benefícios pessoais que a urdidura do poema traz para o seu criador. Bem, mas este assunto é dos domínios da psicologia e da psicanálise, como apontou sobejamente a genialidade de Sigmund Freud...

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2014/16.

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