O NASCIMENTO DO BEBÊ

Sim, estimada poetamiga MB, me apercebi de há muito, que ficas somente no primeiro momento, o da intuição, a que chamamos "inspiração", em que o poema parece estar pronto assim como surgiu do processo de criação... Vi quando depunhas sobre a temática, em ato verbal preparatório à recitação de teu poema, no sábado, 01/07, no palco do auditório da 32ª Feira do Livro, quando do Encontro de Casas do Poeta, em Canoas. Eu e o crítico literário Eduardo Jablonski falamos sobre a tua concepção quanto à criação poética. No entanto, creio que com o passar do tempo e maior número de poemas e livros publicados, vais notar que o poema pode ser melhorado com a maturação da peça poética, atingindo melhor patamar estético. Parece-me que, psicologicamente, o autor tem uma enorme possessão sobre a sua criação poética, porque se vê num processo de delação do que lhe ocorre no íntimo, especialmente no poema lírico-amoroso. Não se dá conta de que o poema não é somente seu, e que se destina ao semelhante que busca a Poesia como resposta às suas inquietações e agruras. É portanto, um ato de CONFRATERNIDADE, singela e humilde proposta ou sugestão para que o poeta-leitor tome posse de sua peça, numa oferta de amor. Caso só interessasse aos domínios do autor, para que trazê-lo à luz, ao público? Seria somente para agradar ao EGO do poeta-autor? Um ato egocêntrico, fruto do egoico, que só teria validade para o seu criador? Realmente, o nascimento do poema deixa a gente embasbacado, de certa forma impotente para modificar a lavratura original, tal como se este fora uma criança recém nata. Parece que, se o alterarmos em sua forma, estaremos cortando um dedo ou até extirpando a mão do bebê... (Risos!) Mas é assim mesmo o processo, com o tempo a gente vai dominando as técnicas do criar e iremos nos aventurando ao Novo. É aí que começamos a constatar a presença do receptor; enfim, a quem a literatura é destinada como peça fruto da sensibilidade humana e de sua inteligência. Grato pelo teu depoimento sincero e útil à discussão literária. Estamos – todos – em processo de aprendizagem. O poema é o bebê saindo da tutela, ganhando asas para o mundo, porque a sua destinação é o alçar voo...

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2014/16.

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