Certezas

Inspiro...

Expiro...

Inspiro...

Expiro...

Além do oxigênio vital, noto que penetra em meu ser um ar carregado de pontos de interrogação. É o ar pós-moderno, intelectual. Sacudiu muitas certezas que nutriam a alma da antiga geração.

Certezas? Artigo raro nesses tempos sofisticados. As que possuo são tesouros bem guardados para não serem roubados.

Mas não as guardo só para mim. Compartilho-as com todos que abrem a mente, que prezam pelos valores duradouros e há muito provados.

O individualismo exagerado parece fazer bem ao mercado. Muitos produtos consomem as almas solitárias e decepcionadas, vazias de afetos. Mas não há preço que pague uma boa conversa, um carinho, a confortável sensação de que temos um ninho, um porto seguro, uma família sempre presente, amigos – o melhor negócio!

Um jardim florido não é obra do acaso. Sem esforço e abnegação as ervas daninhas tomam conta e matam tudo o que é frutífero e belo. O lar aconchegante é regado todo dia com diálogo franco e cordialidade, com compromisso firme de cuidado mútuo e fidelidade. Não há investimento mais seguro e rentável do que cultivar horas e horas ao lado da família, dos amigos e de tudo o que é saudável.

A sabedoria não nasceu ontem. Foi testada geração após geração e venceu os séculos que já passaram e vencerá os que virão. Sempre foi ameaçada. Há tempos em que parece ter sido suplantada pela estupidez. Aos que tiverem paciência e esperança, ela jamais decepcionará; é o que verão.

A realidade não é ciência pura. É ciência aliada a muito mistério. Ele é mais sábio do que tudo que já se sabe. Os antigos reconheciam sua própria fragilidade e dependência diante da majestosa transcendência. Nutriam sua alma com sagrada sabedoria. Tinham certeza de que o mundo tem sentido e propósito. A vida nasce de uma fonte inesgotável e deságua num oceano de eterna benevolência.

Almas nobres do passado entregaram a mim tal tesouro. Nada cobraram, foi um gesto generoso. Compreendiam que o futuro da humanidade dependia dessa corrida de bastão. Não tinham dúvida de que a conta bancária não importa tanto quanto o coração. Foram homens e mulheres de muita fé; disso se orgulhavam, era isso que os mantinha em pé.

Um dia também chegarei ao oceano; é inevitável. Os melhores dias ainda virão. Os bens que recebi quero transmitir à nova geração. Serão responsáveis de levar adiante o bastão. Creio que serão sábios e todas as ameaças superarão.

Enquanto navego nesse rio cheio de curvas, perguntas e mistério, continuo bebendo da fonte inesgotável, da sagrada sabedoria. Vejam só esse trecho: “O Deus que fez o mundo e tudo o que está nele, o Senhor dos céus e da terra, não vive em santuários feitos sob medida, nem precisa que a raça humana se desgaste por causa dele, como se ele não pudesse tomar conta de si mesmo. Ele fez as criaturas! Nenhuma criatura o fez. Começando do nada, ele fez toda a raça humana e criou a terra habitável, com muito espaço e tempo para uma vida em que pudéssemos buscar Deus e que, em vez de ficar tateando na escuridão, pudéssemos de fato encontrá-lo. Ele não brinca de esconde-esconde conosco. Ele não está num lugar remoto: está bem próximo. Vivemos e nos movemos nele, não podemos escapar dele!” (discurso de um homem chamado Paulo no Areópago de Atenas, há quase dois mil anos, registrado nas Sagradas Escrituras em Atos 17:24-28)

Respiro essas palavras e elas minha vida inspiram.