Carta a um Triste Poeta
Viva, meu caro "Triste Poeta".
Soube que andas em bolandas com o "amor" e dele desdenhas, garatujas sem fim, porque padeces de alma as desventuras de uma geminação querida real, mas posta em ruína.
Pois, meu pobre amigo, preferia saber-te corno; entenderia tua inaptidão de satisfazer as damas, apesar de, no mercado, haverem à venda uns azulinhos viperinos para o efeito, mas disseram-me estares profundamente doente devido a estocadas de ciúme compulsivo que te cercaram e molestaram.
Sabes que o esterco só cheira mal se tocado e lança os seus gases venenosos sobre os incautos, não tugem nem mugem, só esperam a sua exterminação final.
Felizmente, a tudo isso, sobreviveste, estás são e salvo e chegaste a um porto seguro onde poderás chorar a amargura de uma vida boémia e solitária.
Não te amofines, amigo, mas olha que esse "porto seguro" é "deificação da beleza" corporal, o monumento feminino da graciosidade, vista por um safado como eu, mas tu, Triste Poeta, que sempre almejaste o espírito, não te comoves já com tão pouco epíteto.
Ah! Poeta, soube que alcançaste a tua "luz" e o teu "mar", que te ilumina os sonhos e te faz navegar à bolina no desejo da doação mútua, sem cedência a meras e vãs ilusões.
Meu querido amigo, Poeta Triste, de todo o coração te desejo mil venturas.
Que cresçam de vós bênçãos de louvor mútuo, poemas de eterna felicidade, sorrisos cúmplices, danças faustosas e a embriaguez espiritual, como filhos predilectos.
Atenta, Poeta, deixa de ser triste, para quê chorar desditosas odaliscas de momento?
Renasce a tua singela alma de poeta e encanta o mundo de cantos de amor!
Abraço eterno, deste teu amigo boémio, cuja vida se fina sem culpas nem desculpas.
Beija, por mim, as mãos da tua venturosa donzela.
Teu, sempre,
Cyrano