Progresso intelectual

"A ciência incha, mas só o amor edifica."

(Paulo - primeira epístola aos coríntios 8:1)

O conhecimento existe para tornar as pessoas melhores; para desenvolver a nossa sensibilidade e despertar em nossa consciência o desejo de nos conhecermos e de nos melhorarmos constantemente.

É comum vermos indivíduos esclarecidos deixarem-se dominar pela vaidade e pelo orgulho, nutrindo um sentimento de superioridade em relação ao resto da sociedade. Não adianta avançarmos quilômetros na aquisição de conhecimento e no desenvolvimento das nossas capacidades se não caminharmos nem alguns milímetros no progresso moral.

Há mais de 2000 anos, o pensador chinês Lao Tsé dizia que aquele que conhece a própria ignorância revela uma profunda sabedoria. É muito importante termos consciência dos limites do nosso conhecimento e da nossa capacidade de dominar a realidade. A Humanidade deve muito ao progresso intelectual, desde a cura de muitas doenças até o desenvolvimento dos transportes e das comunicações. Em nenhuma outra época a sociedade esteve tão preparada intelectualmente e tecnologicamente. O conhecimento nunca foi tão divulgado como agora. Para termos uma idéia, um estudante de 14 anos tem à sua disposição mais informação do que os filósofos Sócrates e Platão tiveram ao longo de suas vidas na Antiguidade. Mas, mesmo com tantos avanços, as conquistas humanas ainda são extremamente frágeis e limitadas diante da grandiosidade do Universo.

Quando a espécie humana surgiu na Terra, o Planeta já tinha 4,6 bilhões de anos de idade.

Se um avião pudesse viajar pelo espaço sideral, levaria 5 milhões de anos para chegar à estrela mais próxima de nós.

Se existisse uma estrada através da nossa galáxia e um carro saísse da Terra a 160 km/h, levaria 221 bilhões de anos para chegar ao centro da Via Láctea. Todo esse tempo para atravessar uma galáxia. E o Universo que conseguimos observar tem pelo menos 100 bilhões de galáxias.

Se a Lua desaparecesse, a Terra perderia o seu equilíbrio orbital, e as consequências seriam tão graves, produzindo mudanças ambientais tão grandes que poderiam causar a extinção da vida no Planeta.

Se um supervulcão (como o de Yellowstone, nos Estados Unidos) entrasse em erupção, poderia lançar na atmosfera uma quantidade tão grande de cinza que seria capaz de bloquear a luz do Sol, mergulhando o mundo num inverno global que poderia ameaçar a continuidade da civilização.

Esses exemplos mostram as limitações da Humanidade. Ao longo da história a inteligência ampliou as fronteiras do conhecimento. Penetramos nos domínios do microcosmo e do macrocosmo; nos domínios das energias ocultas da Natureza, como a eletricidade e a radioatividade; e nos domínios do inconsciente e da criatividade. Mas nenhum progresso científico ou filosófico foi capaz de consolidar a paz e a solidariedade entre os povos. Lembremos que no início do século XX grandes pensadores anunciavam um futuro luminoso para o mundo, porque acreditavam que o poder da razão e da tecnologia conseguiria organizar todas as coisas, eliminando todos os grandes problemas humanos. Mas a inteligência, caminhando sem o auxílio do progresso moral, produziu grandes guerras e dores coletivas, crises políticas e ambientais. Hoje existem recursos para exterminar toda a Humanidade várias vezes seguidas.

Vivemos um momento em que o ser humano precisa deixar de ser apenas um espaçonauta, viajando através do universo exterior, e se tornar um psiconauta, adentrando as dimensões inexploradas da nossa alma, para conhecer e superar as nossas falhas e limitações e aperfeiçoar o nosso potencial, aprendendo a educar a vontade e os sentimentos.

O pensador italiano Tommaso Campanella dizia que o mundo é o grande livro onde o espírito imortal grava os seus pensamentos. Tudo o que existe é criado primeiramente dentro de nós, em nossa imaginação, para depois ser materializado em nossa realidade física. Se queremos que haja harmonia no mundo exterior, a única solução é harmonizar o mundo interior de cada um de nós. Como dizia Sócrates, para que servirá a educação, se ela não for capaz de despertar as virtudes da alma ?

A inteligência é uma das forças fundamentais para o desenvolvimento humano, mas devemos entender que o amor é o combustível que deve alimentar o progresso intelectual em sua trajetória de descobertas e realizações, garantindo que os resultados sejam sempre positivos.

Nunca haverá o verdadeiro progresso enquanto as ações humanas não estiverem impregnadas de amor, justiça, respeito e altruísmo.

Investigar com espírito racional, sem preconceitos e com o desejo sincero de conhecer a verdade, e utilizar o conhecimento com base no equilíbrio e na solidariedade, beneficiando a todos - eis a grande missão da Humanidade para o futuro.