A hipocrisia humana

Ao mesmo tempo que vemos movimentos internacionais com vistas à democratização das sociedades, à proteção de seus compatriotas, especialmente de ataques chamados de terroristas e às “invasões” de refugiados, à busca do desenvolvimento tecnológico, à ampliação da riqueza, o que vem levando muito mais ao enriquecimento de pessoas e grupos específicos e não à distribuição da renda aos menos favorecidos, enfim à busca da chamada “melhores condições de vida” à coletividade, deparam-nos, de fato, com uma grande mortandade dos miseráveis, ao agravamento do empobrecimento humano e a queda ao grupo de empobrecido daqueles que, numa luta inglória, tentavam manter-se em patamares minimamente dignos de sobrevivência.

Somada a essa dolorosa realidade, presenciamos calados e inertes ao assassinato de milhares de pessoas vítimas de conflitos que, numa aparência de religiosidade fanática, esconde a ganância asquerosa do ser humano, ofusca a terrível disputa por interesses econômicos entre as nações e grupos locais envolvidos, camufla a mais horrorosa das posturas dos seres que se dizem humanos, mas agem como máquinas gananciosas e enceguecidas à condição do alheio.

Todos os dias, o mundo ouve notícias de milhares de pessoas famintas, em sua maioria de mulheres, idosos e crianças, em condições sub-humanas, já perdendo a crença pela vida, entregando-se à morte em condições de desesperança absoluta. A partida desta vida, tornou-se para elas a melhor das opções.

Guerras civis que, na verdade, representam a disputa de interesses de grandes grupos, grandes nações, que alimentam os combatentes, com ódio, dinheiro e armas, na esperança de se matarem e de se enfraquecerem mutuamente e deixarem às “melhores” opções para os gigantes dominadores que assim o fazem de forma explicita ou escondida.

Enquanto isso, a população desassistida, desamparada, absolutamente indefesa, morre à mingua, esvai-se em lágrimas e sangue, explicitando a grande miséria da humanidade, muito maior do que a econômica, a miséria moral, de princípios éticos e de compaixão.

As pessoas estão morrendo de fome e vítimas da violência humana, mas o grande responsável é o desamor humano que impera entre os povos, lideres e liderados, que se mantém, hipocritamente, focados nos seus interesses e absolutamente cegos ao imenso sofrimento dos desprotegidos.

O mundo presencia, cotidianamente, milhares de mortos no Oriente Médio, na África, na Ásia e, mesmo assim, ouve-se o silêncio retumbante dos povos. Porém, a possibilidade de algumas vítimas no ocidente, especialmente nos países dominantes, faz com que o mundo se mobilize de tal forma que se chega a acreditar que a fraternidade humana fez-se novamente presente, retornando de um passeio nas terras do egoísmo e da ganância. Ledo engano!

Milhares de mortes e limitações permanentes geradas pela desnutrição fazem parte da realidade rotineira do mundo abaixo do equador, mas, tal realidade, pouca importância tem aos poderosos, econômica e politicamente falando, pois seus objetivos estão firmemente e congeladamente focados nos próprios interesses.

Em diversas nações menos desenvolvidas socialmente, o dinheiro da saúde, da educação, da segurança, da ajuda aos famintos e desassistidos está sendo aviltantemente reduzido, tanto pela falta de prioridades, como pelos desvios criminosos de seus dirigentes. Uma calamidade diária, silenciosa, espasmodicamente atacada, mas que se mantém presente ao longo das décadas, gerando o acúmulo de sofredores, desesperançosos, doentes, famintos e de mortes.

Cristo chamou os fariseus de hipócritas por não agirem em conformidade à sua fala e às suas pregações. Como seriamos nós, humanidade que alimenta o ódio, mata direta e indiretamente os desprotegidos, ou mesmo que se cala diante de tantas atrocidades? A indignação humana com o sofrimento evitável, a revolta dos povos diante do massacre de pessoas indefesas, o horror à ganância desenfreada e asquerosa dos dominantes, nada disso vem fazendo parte de nosso cotidiano a ponto de nos mobilizar.

Vivemos a grande hipocrisia humana!

Que o mundo acorde, abra os olhos e veja o que está fazendo com seus semelhantes.

Milton Menezes
Enviado por Milton Menezes em 17/01/2016
Código do texto: T5514037
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