Palavra a alguém que nunca foi nem é do Recanto das Letras
 
        Tomo a liberdade de dirigir a ti as palavras de e-mail que acabo de escrever em resposta ao comentário de uma amiga. Julgo que essas palavras servem e nos cabem, a ti, a mim, bem como a muitíssimos de nós:



"(...) estão difíceis todos os cenários, todos, em tudo, em todos os lugares, pessoais e coletivos e os dois cenários se cruzam, claro. Tentemos sobreviver...  O que não podemos é ensandecer, apesar da solidão, do medo, da insegurança, da pouca, da quase nenhuma esperança. Sobreviver é a palavra de ordem, seja lá como for."



Acrescento, agora especificamente a ti, homem: Não podes partir, sabes que não podes e sei que era tudo o que querias, poder partir para outra geografia, outro mar, a outra terra, a tua pátria real há muito, já. Não o podes, tampouco podes nem consegues nem queres refazer em ti aquele ser que  conheci há tantos, há tão enormíssimos anos.Também não posso refazer-me, em mim, aquela que fui. Que posso dizer-te? Há séculos deixei de ser em ti o que fui, urge que eu compreenda de vez e de modo absoluto  tal fato, tal como o compreendo também em mim, ainda que minha lealdade a ti permaneça intacta, como aliás, nunca o deixou de ser. Apesar de te encontrares novamente ante novo divisor de águas, te permanece a escrita, tua âncora, tua salvação, a tua real pátria mais funda. Para que rumos tua escrita irá? Nem tu o sabes, ainda, mas, ela continuará, ela te continuará, enquanto te houver sopro de vida, que ela é tua alma e tua vida. E também depois de ti, ela te continuará. E sabes que nada disso posso dizer de mim... Tu o sabes bem. Tu o sabes muito bem. Ah, se pudesses rezar por mim... Se o pudesses... Eu não sei rezar por mim...

Deixo-te aqui a imagem de girassóis e a de um sonho de paz, na imagem de uma branca rosa... de uma rosa branca...