Gestão de recursos internos
Todas as pessoas possuem em seu interior 3 forças básicas, que podemos chamar de As Três Potências da Alma: vontade, inteligência e sentimento. Todas as ações humanas surgem a partir da mobilização dessas 3 forças. Por exemplo, o que é preciso para fazer um curso de medicina ? Vontade para estudar, enfrentar as dificuldades, perseverar em nosso objetivo; inteligência para aprender e colocar em prática o que aprendemos; e algum sentimento: amor ao estudo, desejo de aprender e ser útil à sociedade, ou pelo menos alguma ambição, um desejo de conquistar o sucesso profissional, uma condição social melhor. O que é preciso para realizar um ataque terrorista ? Vontade para executar a ação; inteligência para planejar o ataque; e sentimento de ódio, vingança, indiferença em relação aos outros. Portanto, para executar ações positivas ou negativas as forças são sempre as mesmas. Nossa grande missão é aprender a administrar essas forças de forma correta, canalizando-as sempre para o bem. A função das religiões é nos ensinar a conduzir a nossa vontade e o nosso sentimento, porque a inteligência sempre caminha independentemente da orientação moral.
Recentemente assisti um documentário sobre os Amish - comunidade extremamente conservadora que existe nos Estados Unidos e em outros países. Eles são muito religiosos e se mantêm praticamente isolados do resto da sociedade em suas comunidades fechadas. Rejeitam a tecnologia porque acreditam que ela pode corromper as pessoas e reprovam o estilo de vida dos que pensam de forma diferente. Eles podem ser honestos e bem intencionados, mas estão enganados em suas convicções. A tecnologia, ou quaisquer outros recursos materiais, não corrompe os indivíduos. Ela simplesmente ajuda a ativar a corrupção que já existia adormecida dentro de nós, funcionando como um facilitador e amplificador de nossas tendências inferiores. A origem do mal não está no mundo exterior, está dentro de nós. O ambiente onde vivemos, as situações pelas quais passamos e as companhias que temos podem nos afetar e provocar em nós sentimentos de raiva, ódio, pessimismo, inveja, egoísmo ou desejo de vingança, se permitirmos que esses sentimentos se manifestem em nosso mundo interior, mas as condições externas não criam o mal, apenas contribuem para que ele surja e cresça quando a sua semente já existia.
Um exercício muito importante que podemos fazer é desenvolver um espírito filosófico, analisando tudo o que acontece conosco e procurando extrair algum aprendizado de cada fato. Devemos aprender a reinterpretar os fatos. É muito comum termos uma visualização emocional daquilo que nos acontece, revivendo através da memória os acontecimentos agradáveis ou desagradáveis. Por exemplo: você está andando na rua e alguém o empurra e vai embora sem dizer nada. Às vezes esse fato estraga o resto de seu dia e continua estragando a sua vida, porque você fica relembrando o que ocorreu e revivendo a mesma emoção de raiva, pensando: 'Aquele miserável me empurrou e nem pediu desculpas. Ele me prejudicou'. É uma visualização emocional. Devemos substituir esse tipo de interpretação por uma visualização analítica, pensando: 'O que esse acontecimento significou realmente em minha vida ?; Até que ponto realmente me prejudicou ? O que eu posso aprender com isso ?'
A visualização analítica dos fatos compreende 4 etapas:
1. Visualização: revemos o fato através da memória e podemos reviver a emoção, sem deixar que ela nos domine.
2. Análise: analisar o que aconteceu, o que significou, até que ponto aquele fato nos ajudou ou prejudicou.
3. Conclusão: constatar o que pudemos aprender com o ocorrido, que utilidade aquele fato teve em nossas vidas.
4. Aquisição evolutiva: constatar como podemos usar esse aprendizado em nossas vidas a partir de agora, enriquecendo a nossa experiência pessoal.
No exemplo da agressão, podemos concluir: aquele indivíduo me empurrou, mas foi apenas um momento, sem consequências mais graves; não posso deixar que aquele momento prejudique toda a minha vida; com isso eu posso ter aprendido algo útil, talvez compreender que fatos ruins fazem parte da vida, que posso ser mais paciente, ou que graças a essa experiência eu posso compreender melhor as pessoas que são vítimas de maus tratos.
Devemos aprender a reagir positivamente diante de cada situação. Isso é fundamental para o nosso autoconhecimento e o nosso crescimento emocional. A diferença entre os maiores criminosos e os indivíduos mais santos está na forma como reagem diante da vida, como aproveitam as oportunidades, como devolvem para a sociedade aquilo que receberam de bom e ruim ao longo de suas vidas. Ser uma pessoa boa, correta e útil significa saber conduzir bem os nossos recursos internos: educar a vontade para desejar somente o que é certo, justo e produtivo, utilizar a inteligência para fazer o melhor possível e educar o sentimento para que as emoções não nos comandem, mas sejam instrumentos importantes para a execução das nossas ações.
Pensar antes de agir, ter força de vontade para perseverar em nossos objetivos, sempre levando em consideração o bem de todos, e despertar o amor (sentimento que nos leva a desejar o bem dos outros e a nos dedicar a ações positivas), a empatia (sentimento que nos leva a nos colocar no lugar dos outros, sentindo o que os outros sentem e compreendendo as suas necessidades) e o desejo de auxiliar e alcançar resultados cada vez melhores - esse é o grande trabalho que devemos realizar dentro de nós.
O grande desafio da Humanidade será aprender a dominar e canalizar corretamente as forças internas que todos os indivíduos possuem. Esse trabalho de transformação interior será a chave do nosso futuro como espécie, a diferença entre um futuro de guerra ou de paz, entre um mundo de miséria ou de abundância, entre o equilíbrio ecológico com o desenvolvimento sustentável ou a destruição do meio ambiente, entre uma sociedade justa e harmônica ou egocêntrica e destrutiva.
Lembre-se sempre: somos o que desejamos, o que pensamos e o que sentimos; o mundo é um reflexo de todos nós, e só mudará para melhor quando os indivíduos alcançarem a maturidade na administração de suas forças internas, quando aprenderem a desejar o melhor, a se dedicarem ao aprendizado e ao aperfeiçoamento constante e quando cultivarem o amor, fazendo com que o bem deixe de ser uma utopia e se converta na força mais poderosa para a transformação da Terra.