O medo
Ele questionava sua valentia, duvidava de sua bravura, príncipes defendem a candura. Incômodo litígio interno, bravos não mensuram, previamente, os riscos.
Vestiu-se de espantalho, para ver o quanto espantaria os pássaros invasores, foi ao dentista e enfrentou os motores, dormiu sem rezar, para fazer frente aos pesadelos, invadiu cemitérios à noite. De todas as propostas saiu ileso, sem manchar o seu conceito, não havia o por que colocar em xeque sua coragem.
E a vida a tudo assistia, vendo um tolo montar e se safar de suas fobias, estruturar medos, dos quais se sabia capaz de enfrentar, projetando perigos menores que sua capacidade.
O ingênuo não percebia que a altura do estrondo não dimensiona os efeitos; a materialização do ataque não determina, por si só, o número de vítimas, o grau da curva não equaciona, verdadeiramente, o risco da derrapagem.
O medo é inerente aos homens, é por ele existir, que decorre a vontade de enfrentar; olhe a vida de frente: a cada explosão, a cada intruso, a cada desvio, e a cada espectro.
Você carrega o medo em seus alforjes, o mais bravo o carrega também, e se não há como dele se desvencilhar, aprenda como contorna-lo, sempre que com um deles se defrontar...a vida é assim.