Carta aos pais
Carta aos pais
Quando ainda passeava em seu imaginário, de como seria o meu rosto, os meus olhos, a cor de minha pele, se meu sorriso seria parecido com o da mamãe, ou seria bom de bola como o papai, ou simplesmente vocês enquanto pais, buscavam minha presença ainda que não formada, no brincar de outras crianças.
Enquanto me remexia na barriga da mamãe, dando sinal de vida sinalizando que lhe daria muito trabalho, apostaram muito em mim, antes mesmo de nascer. Quando veio a luz, foi em teus olhos mamãe, que os meus viram o mundo. Encantado com sua voz, lentamente adormecia em teus braços já cansados, eu descansava. Foi em teu colo que embalei meus sonhos mais bonitos, sorri por que sorrias, chorei para desperta-lhe atenção. E nesta relação dual, onde as vezes me perdia e éramos só nós dois em um, o papai intervém com maestria, dando-me o lugar privilegiado de filho da mulher que outrora ele escolhera como esposa.
Vim ao mundo de vocês desafiá-los a amar os meus defeitos, as minhas tentativas de birras, as minhas opiniões opositoras, as minhas dificuldades de aprender o óbvio e não tão obvio assim, enfim, vim lembrá-los de que somos seres imperfeitos, e desconstruir a fantasia de que seguirei uma lista de boas atribuições.
Meu propósito é convocá-los a exercer a função materna e paterna, provocá-los para que me dê uma borda, um limite, uma interdição, mostrando-me que através de suas interlocuções, sinto-me amado quando me ensinam normas sociais, me orientam qual caminho é menos tortuoso, buscando não satisfazer todas as minhas vontades, me colocando responsabilidades, implicação e respeito pelos outros, deixando-me espaço para produzir questionamentos de como é ser gente.
Obrigado. Pela palavra firme, forte e objetiva, que me produziu disciplina e ensinou-me que pais e filhos devem respeito um pelo outro, mas nesta relação há uma hierarquia do qual devo me sujeitar. Grato ainda, pela presença marcante de autoridade, por ser espelho do qual pude me refletir e me balizar. Por mostrar-me através dos “nãos”, que sou capaz de suportar frustrações e proporcionou-me maturação psíquica através de suas sábias intervenções. Obrigado ainda por que tua palavra não é frágil, e teus atos permeiam pela ética, e serve-me de exemplo. Me ama de tal forma, que colocou-me limites, sem muito alarde, e mostrou-me que para ter ganhos precisamos abrir mão de algumas coisas, e aprendi ainda contigo que a educação de um filho não pode ser delegada a outro e função de pai e mãe, não é postergável, é legitimada no dia a dia.
Águida Hettwer
09/12/2015
Carta aos pais
Quando ainda passeava em seu imaginário, de como seria o meu rosto, os meus olhos, a cor de minha pele, se meu sorriso seria parecido com o da mamãe, ou seria bom de bola como o papai, ou simplesmente vocês enquanto pais, buscavam minha presença ainda que não formada, no brincar de outras crianças.
Enquanto me remexia na barriga da mamãe, dando sinal de vida sinalizando que lhe daria muito trabalho, apostaram muito em mim, antes mesmo de nascer. Quando veio a luz, foi em teus olhos mamãe, que os meus viram o mundo. Encantado com sua voz, lentamente adormecia em teus braços já cansados, eu descansava. Foi em teu colo que embalei meus sonhos mais bonitos, sorri por que sorrias, chorei para desperta-lhe atenção. E nesta relação dual, onde as vezes me perdia e éramos só nós dois em um, o papai intervém com maestria, dando-me o lugar privilegiado de filho da mulher que outrora ele escolhera como esposa.
Vim ao mundo de vocês desafiá-los a amar os meus defeitos, as minhas tentativas de birras, as minhas opiniões opositoras, as minhas dificuldades de aprender o óbvio e não tão obvio assim, enfim, vim lembrá-los de que somos seres imperfeitos, e desconstruir a fantasia de que seguirei uma lista de boas atribuições.
Meu propósito é convocá-los a exercer a função materna e paterna, provocá-los para que me dê uma borda, um limite, uma interdição, mostrando-me que através de suas interlocuções, sinto-me amado quando me ensinam normas sociais, me orientam qual caminho é menos tortuoso, buscando não satisfazer todas as minhas vontades, me colocando responsabilidades, implicação e respeito pelos outros, deixando-me espaço para produzir questionamentos de como é ser gente.
Obrigado. Pela palavra firme, forte e objetiva, que me produziu disciplina e ensinou-me que pais e filhos devem respeito um pelo outro, mas nesta relação há uma hierarquia do qual devo me sujeitar. Grato ainda, pela presença marcante de autoridade, por ser espelho do qual pude me refletir e me balizar. Por mostrar-me através dos “nãos”, que sou capaz de suportar frustrações e proporcionou-me maturação psíquica através de suas sábias intervenções. Obrigado ainda por que tua palavra não é frágil, e teus atos permeiam pela ética, e serve-me de exemplo. Me ama de tal forma, que colocou-me limites, sem muito alarde, e mostrou-me que para ter ganhos precisamos abrir mão de algumas coisas, e aprendi ainda contigo que a educação de um filho não pode ser delegada a outro e função de pai e mãe, não é postergável, é legitimada no dia a dia.
Águida Hettwer
09/12/2015