MINHA UTOPIA: A AMIZADE DE TODAS AS MULHERES
Perdi todas as utopias da minha vida e não há nada mais doído na vida do que perder todas as utopias. Um ser sem utopias é como uma árvore com raiz muito rasa: qualquer vento derruba.É mais ou menos isso que a vida me tornou, uma árvore quase sem nenhuma raiz. Às mulheres todas me liga o destino comum de ser mulher: o apego a terra, o apego a água, o corpo e a alma muitas vezes em combustão. Admito que toda a minha vida sonhei com a amizade de todas as mulheres. Eu sonhei... A vida, dolorosamente, não permitiu que fosse integralmente assim em nenhum dos lugares por onde caminhei, eu, justo eu a quem nunca moveu nenhum sentimento nem gesto que deliberasse ferir, em especial a mulher nenhuma, em nível nenhum. Enfim... Se a vida é feita de dor, tenho que aceitar as dores que venham sabendo que, em mim, a mais terrível das dores é a de causar sofrimento, quase sempre sem nenhuma razão objetiva e sempre involuntária, embora eu, a bem da verdade, não possa responsabilizar nenhuma outra pessoa por males que a minha pessoa cause, venha a causar, até por eu meramente existir. Para mim não há cruz mais dolorosa e pesada do que a de causar sofrimento a quem quer que seja e por menor que seja. Tomo o Deus Criador como testemunha do que escrevo neste momento. Ah, essa dor por causa da qual vivo há muitíssimos anos como cigana de mim, judia errante de mim, mesmo aqui neste local onde vivo, plantada como uma árvore, árvore imóvel onde o vento não entra para sacudir-lhe as folhas que restaram. Eu, esse ninguém que só espera da vida a sobrevivência, quase coisa nenhuma para além.
Esta escrita é ato puramente catártico, para alívio. Quem ler, não se detenha nele; leia e o esqueça. Não vale a pena deter-se nele.
Esta escrita é ato puramente catártico, para alívio. Quem ler, não se detenha nele; leia e o esqueça. Não vale a pena deter-se nele.