A CHAVE DA FELICIDADE

Caso venhas a estudar Psicologia, especialmente a partir da ótica freudiana, poderás vir a entender este processo imbricado do espírito humano: o de desejar "ser olhado" constantemente pelo outro, e isto costumeiramente vale dizer "ser aplaudido". É por esta razão que o poema – em regra – é a transfiguração do real, do mundo fático, para o poeta-autor poder vir a ser feliz. Através dele recria-se a vida favoravelmente ao espírito insatisfeito, desejoso de mudanças. Talvez seja por esta razão que o conteúdo do poema viaja tão fundamente dentro do seu propositor, a ponto de elidir a sua capacidade de avaliação estética. Talvez explique também o que representa para o autor o tal de “tapinha nas costas” que avaliza o elogio sobre o seu texto. Afinal, quem não gosta de se sentir valorizado? Até o pretenso poema – a fala tímida e sem jeito ou formato literário – pode ser a garatuja da felicidade, porque ela é a voz sentimental pela qual o escriba se livra da hostilidade momentânea e incisiva, através do que tem à mão – a palavra doce e amorosa, como se dissesse: vai-te, satanás! Para o agente, cioso de que pode fazer mudanças a seu favor, nem importa o que o texto diz, e sim o que este representa para ele – criador – como elo psíquico entre o ato, o fato, o gesto tido ou havido na realidade, e, a partir do poema – ungido pela palavra que o sacramenta como o Novo benfazejo...

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015.

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