O TELEFONE CELULAR
Ah, este instrumento, que foi projetado para substituir o telefone fixo, com a vantagem do deslocamento, e, mesmo assim, continuar se comunicando, no meio do caminho e por diversos lugares.
Acompanhei o lançamento dos primeiros telefones celulares em minha cidade. O meu, tinha o prefixo 984-0012. Com o tempo e a sua grande aceitação as combinações numéricas congestionaram e tiveram que acrescentar-lhe um número antes e, como sempre, o número mágico que se lhes apresentara no momento foi o “9”. Mais adiante, congestionando, também este número, acrescentaram-lhe outro “9”.
A ideia inicial, e sem muito o que fazer com ele, uma vez que ligar para números fixos ficaria proibitivo, ele não se apresentava como uma boa aquisição, por ser ínfima a quantidade de pessoas que o utilizaria.
Cresceram-se as redes, as repetidoras, o sinal melhorou um pouco, sendo possível no território espírito-santense, falar em aproximadamente 90% dele. Começava ai a se tornar interessante ferramenta de negócios.
Já com inúmeros recursos, falando e servindo de vídeo game, passatempo, copiadora, máquina fotográfica, scanner, e-mail, GPS e outras mais invenções, vieram os profissionais da área e nele inseriram inúmeros aplicativos que, com o tempo, vêm ganhando mais adeptos e os tornando viciados, iguais a zumbis. Andam de moto, de bicicleta, de carro, a pé e sempre teclando. Com ele e com as redes sociais, a maioria das pessoas ficam antenadas, plugadas sei lá o que.
Pois bem, os diversos tipos de mídia nos mostram, na maioria das vezes, o vício, a ponto de não se notar as pessoas que estão ao nosso redor, de não se dar atenção às conversas, as pessoas e os lugares. Muitas vezes estamos com alguém e pensando, teclando, conversando com pessoas que estão bem distantes, tornando-nos verdadeiros zumbis, mal-educados e totalmente sem graça.
Já se cogita, nos jantares elegantes, na colocação da mesa, onde se coloca o garfo, faca, colher, pratos, guardanapos, de que lado ficaria o celular? Muito sem graça e impróprio, num restaurante as pessoas falando ao celular, digitando ao comer, vendo vídeos engraçados etc., pior, ainda, quando estão se servindo nos “self service’s” da vida, alimentos de todas as variedades, conversando sobre eles, com o celular no ouvido, preso entre o ouvido e o ombro e, simultaneamente pegando comidas.
Se não houver uma intervenção das agências reguladoras da vida, sei lá qual, se não tiver certamente a criarão, mesmo para dar emprego a alguns sanguessugas, que não sabem fazer outra coisa senão se apoiarem nas tetas da mimosa, cuja futura agência regulará o uso dos celulares nos ambientes públicos, nos restaurantes, no trabalho, nas igrejas e nas reuniões. Assim como fizeram com cigarro, fumo, som alto etc.
Lembro-me de ter visto, com estes olhos - que a terra lá bem distante irá comer, mesmo por que não estou com nenhuma pressa -, um rapaz estava namorando com uma pessoa, e ao mesmo tempo teclava com outra. A pessoa que estava com ele foi afastando e quando ele se deu conta estava só.
Às vezes ouvimos alguma pessoa dizer: tenho mais de 1000 amigos no “facebook” e, diariamente me comunico com eles. Será que se ele ficar doente ou morrer aparecerão para visita-lo ou dar-lhe o último adeus?
Não sei se as responsabilidades de cada um aumentaram ou se estão se envolvendo com futilidades. Só sei que se o celular de alguma pessoa quebra ela fica estonteada, desnorteada e corre para uma loja para comprar outro, ainda melhor que aquele. Não estariam, literalmente, viciadas? Se não for vício, o que poderá ser? Nada neste mundo, no meu parco conhecimento é tão eficaz do que um bate papo “tete-a-tete” , do que uma conversa ao pé de ouvido, do que falar frente a frente com seu interlocutor. As expressões faciais, o silêncio, o torcer da boca, do nariz, falam muito mais do que num celular.
Será que não estamos na contramão da cortesia, do relacionamento e do bem-estar familiar. Temos notícias de que em muitos lares – se é que podemos assim denominar – as conversas entre os componentes têm sido feitas por WhatsApp, torpedo e propriamente por telefone. É um absurdo, entretanto, é a mais pura realidade.
Às vezes, no meu escritório, até brinco com as pessoas que me visitam e/ou que as assessoro: Digo-lhes: “fico com inveja quando vejo os celulares de vocês não pararem de chamar ou de assinalarem a chegada de uma mensagem! ” No meu celular, às vezes passa um dia inteiro sem receber uma chamada sequer. E, da minha parte, às vezes passam dias sem que eu promova alguma chamada. Acho que não consegui acompanhar esta juventude que se intitula de tão sábia!
Mas, de uma coisa tenham certeza: as empresas operadoras e/ou fabricantes não devem gostar nada de mensagens como a minha. O que impera no comércio são as promoções bombásticas, onde é prometido que você leva um celular pela metade do preço, compram créditos e ganham o dobro em bônus e assim vai. O estímulo é muito maior do que a capacidade do consumidor de pensar, de refletir, de deixar para amanhã. O impulso faz com que esqueçamos a razão e viajemos nas asas da paixão ou da emoção. Recado dado!