O DESAFIO E O ALENTO (a um nem tão jovem tenente de infantaria)

O meu blogue na grande rede é para funcionar como disseminador de ideias. Se não houver leitores, de nada adiantará a ideia posta. Isto me parece antropológico, por costumes, crenças, hábitos, não? Tu qualificaste, de pronto, como – muito lindo – o texto que publiquei, porém, pelo imediatismo da resposta, não tiveste tempo de consumi-lo e refletir sobre ele, ao que me parece. Ou estarei me desencantando com o tenente que é capaz de fazer o Campo de Marte, todavia, imagino que também é capaz de pensar? E como imaginar um doutorado em antropologia, caso o pós-graduando não seja um condenado ao pensar? Dizes que só te agrada comentar os fatos da política... Pode-se fazer uma analogia: imagine-se a cultura um cilindro oco de muito maior diâmetro do que a politica, cuja espessura é estreita, diminuta em relação ao duto cultural, porém necessário à vida e à convivência social, e que pode, pelo seu escoar paulatino, dinamizá-la ordenadamente, com todos os benefícios coletivos subsequentes. O conduto intelectual-psíquico que compõe a POLÍTICA é açambarcado e tonificado pelo duto CULTURA. Vale dizer, se não praticares a leitura como um hábito válido, constante e necessário, vais ser um simples combatente de rifle em punho, meramente cumprindo ordens do grupo eventualmente dono do poder. Eu não desejo isto para o teu país, a tua terra, o teu ninho de nascimento... Os tenentes de hoje serão os coronéis de amanhã, e isto quer dizer elos dinâmicos da corrente de manutenção dos direitos subjetivos públicos. Todavia, também eventuais contrapontos ao exercício do poder, em caso de arbitrariedade e opressão por parte da cabeça estatal. E eu te desejaria neste sempre contraponto cultural, porque, antes de tudo, és um agente político, um ativista político-cultural. Talvez por isto te encantes tanto com o Brasil – que passa por uma fase de franca ebulição – após um quarto de século de anos de chumbo, e que agora reaprende a exercitar a democracia. Cuida de teu NINHO ORIGINAL com muito zelo. O “estudar” a fim de poder opinar e atuar quando possível, é técnica da guerrilha e da guerra convencional. Esta é a minha ação particular, uma guerrinha boa: fazer os irmãos de luta pensar para depois agirem com discernimento. E só a vivaz e contínua leitura possibilita este discernir entre o que interessa ou não. Quando mais não seja, a arte literária será, no mínimo, um bálsamo para tuas horas difíceis...

– Do livro A BABA DAS VIVÊNCIAS, 2013/15.

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