POSSEIRO DE CANTEIROS E PÁSSAROS

"Manuel falou primeiro:

...

Joaquim Moncks, altaneiro:

Para Pasárgada, sim

que comprei com meu dinheiro

Lá sou amigo do ar

sou companheiro e afim

dos encantos do luar

brilhando por sobre as águas

Onde tem peixe a fartar

e meu vinho cabernet

Lá meu rei é o poemar

Melhor amigo hei de tê?"...

– Luciana Carrero, em “Pasárgada em visões poéticas”, publicado em http://lucianacarrero.blogspot.com.br/2014/01/pasargadas.html , cf. Facebook, em 11/01/2015.

Obrigado, estimada confreira, pela inteligente (e agradável) estrofe sobre o bairro no Passo de Torres/SC, onde se situa o mais rico recanto de minha criação poética. O nome "Pasárgada" dado a estas paragens, que na real é uma ilha entre o mar e o braço de rio a que os nativos chamam de "rio morto" (curiosamente, é um criatório vivíssimo de peixes, ostras e outras espécies marinhas), foi uma faixa de terra tomada por SC ao RS, pelo trajeto artificial do Rio Mampituba até o oceano, em linha reta, construído em 1973, pelo Ministério dos Transportes, ao tempo do ministro Mário Andreazza, a pedido dos donos das parelhas de pesca para facilitar o acesso e a saída dos barcos para o mar, por entre os molhes, excluída a ocorrência do assoreamento. Aqui ninguém tem a escritura dos terrenos, somente a posse. Identicamente a mim, que sou posseiro de minha fala. Data desse período do séc. XX a denominação deste pedaço de terra "... onde sou amigo do Rei", como queria Manuel Bandeira, lá por 1913, quando garatujou o inusitado poema "Vou-me embora pra Pasárgada". Bebo o néctar predileto – o vinho tinto – entre jardins e pássaros, especialmente canários, bem-te-vis, corruíras e andorinhas. Por vezes, aparecem alguns afetos e a festa está completa. Diretamente dos canteiros de Pasárgada, sigo eu à busca de horizontes. Lá onde estão os tresnoitados afetos de outros pássaros e fugas.

– Do livro A BABA DAS VIVÊNCIAS, 2013/15.

http://www.recantodasletras.com.br/mensagens/5205282