O POEMA NA BOCA DO INTÉRPRETE

Quanto ao questionamento sobre o poema (com poesia) e sua interpretação, não deverias te preocupar, conforme argumentas. O poema é peça única e sempre matéria morta caso não haja o receptor. Vai ganhar vida na cuca e degustação do leitor, que o interpretará segundo seu alvitre. O recitador, naquele momento peculiar de sua recriação – quando de sua verbalização – é o dono do conteúdo do poema, o qual já não é mais do autor, porque está agora no mundo de sua destinação, enfim, para o qual foi ideado e criado – estar no mundo para ser consumido. Portanto, se cada pessoa é um universo individuado, o poema também o será na boca de terceiro. Bem, quanto aos méritos e talento interpretativo, este é juízo conclusivo de cada ouvinte, porque se trata de impressão estética personalizada. Nesta hora, o possuidor eventual (poeta-leitor-intérprete) é quem vivificará a peça poética. Não lhes parece?

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014/15.

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